domingo, agosto 28, 2005

Sorte e Acaso

Quantas vezes damos por nós a atribuir o fracasso ao "azar" ou o sucesso à "sorte"... Pensemos: Será que é razoável um Universo, uma realidade em que os acontecimentos sejam ditados pelo acaso? Será que a nossa existência é um mero acaso? Será que é razoável admitir que vivemos num Universo aleatório e sem leis que o regulem? Ou, pelo menos, num Universo em que as leis têm grandes lacunas?...
Durante a maioria da história humana desconheciam-se quaisquer leis que regulassem e permitissem prever fenómenos, aí atribuiu-se à vontade divina e a poderes sobrenaturais a regulação do Universo. Os deuses determinavam a sorte e o azar. Foi só depois da formulação das Leis de Gravitação Universal de Newton que se começou a pôr a hipótese de que o Universo era regulado por leis que o homem podia descobrir e usar para fazer previsões. Entrou-se, então numa nova fase nos meios científicos, a do Determinismo. Os deterministas acreditavam que, uma vez conhecidas todas as leis, e conhecido o estado do Universo (ou de qualquer parte dele) num determinado momento, seria possível dizer como tinha evoluído até ali e como iria evoluir a partir dali. Ou seja, num mundo determinista, a sorte e o azar não têm lugar, todos os acontecimentos são univocamente determinados por leis muito precisas.
Contudo, no século XX, com o desenvolvimento da Mecânica Quântica (a mecânica do muito pequeno, das partículas subatómicas), experiências mostravam que não é possível determinar com exactidão a velocidade e a posição de uma partícula simultaneamente. Pode-se determinar a velocidade OU a posição com tanta exactidão quanto queiramos, mas nunca as duas ao mesmo tempo. Esta observação deu origem ao Princípio da Incerteza Quântica que reintroduz o papel do acaso na ciência. Ao nível quântico existe sempre uma determinada quantidade de incerteza que impede uma determinação exacta das condições num determinado momento e, por conseguinte, impossibilita previsões precisas.
Parece que, afinal, a sorte também determina o destino do Universo.
Mas a história não acaba aqui...

O indeciso e incerto

A pedido de duas pessoas decidi escrever sobre as várias personalidades, jogos e papéis que existem distorcidos, com mais frequência, na nossa sociedade.
Hoje trata-se do indeciso e incerto.

Diz-se que o maior erro de uma pessoa é ter medo de cometer erros. A indecisão e a incerteza são maneiras de se evitar o erro e a responsabilidade. Se nenhuma decisão é tomada, não acontecerá nada de errado. A tendência para evitar decisões manifesta-se, por vezes, adiando-as tanto quanto possível. O verdadeiro erro é não aprendermos com os nossos erros.

O problema básico, aqui, é a auto-estima e a tentativa de a proteger. As pessoas indecisas temem perder o respeito que lhes têm, se tomarem a decisão errada. Como alguém já disse, só as pessoas limitadas é que nunca erram. Aprendemos mais com os nossos erros do que com os nossos êxitos. Mas a pessoa indecisa está tão voltada para o seu próprio ego e para o seu valor pessoal, que não percebe a vitalidade destas verdades. O nome do jogo é segurança e auto-protecção; o seu lema é: quem não investe não perde.

Muitas vezes, a indecisão resulta de uma programação que foi feita através de instruções múltiplas, às vezes contraditórias e moralistas; ou de repreensão e embaraço por erros passados. Enfim, a indecisão pode levar a pessoa a envolver-se em problemas mais pesados do que é capaz de suportar. Geralmente, torna-se confusa e não consegue resolver coisa alguma...

Sensatez e reflexão, nesses momentos, são essenciais para conseguir discernir com clareza.

sábado, agosto 27, 2005

Eu...
















Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!


Florbela Espanca


Um amigo é presença na tua solidão... é alguém que pensa em ti quando estás ausente e rejubila quando estás presente.
Amiga, no meu coração nunca estás ausente, por mais longe que estejas!

(Post dedicado à Diva.)

quinta-feira, agosto 25, 2005

O encontro interpessoal e os cinco níveis de comunicação

Alguém distinguiu de maneira hábil cinco níveis de comunicação, através dos quais as pessoas podem relacionar-se umas com as outras. Tratam-se de cinco graus de disposição da pessoa para sair de si mesma e comunicar com os outros. Essa pessoa representa o ser humano, obrigado por uma insistência interna a ir ao encontro dos outros, e,ao mesmo tempo, com medo de o fazer.

A maioria de nós emite apenas uma resposta fraca ao convite para o encontro com os outros e com o mundo. A razão disso é que nos sentimos desconfortáveis, quando expomos a nossa nudez como pessoas. Alguns de nós apenas desejam fazer essa viagem, enquanto outros encontram, de alguma forma, até à liberdade.

Nível Cinco: Conversa chavão.
Representa a resposta mais fraca ao dilema humano e a mais baixa na auto-comunicação. Na verdade, não há aqui qualquer tipo de comunicação, a não ser por acidente. Conversamos através de chavões ou frases feitas tais como: "Como vai?"... Como vai a família?... Por onde tem andado?..." Dizemos coisas do tipo "Gosto muito do teu vestido"... "Espero que possamos ver-nos em breve"... "Foi um prazer encontrá-lo."
Na verdade, quase nada do que dizemos ou perguntamos é verdadeiro. Se a outra pessoa ressolvesse responder objectivamente à nossa pergunta "Como vai?", ficaríamos embaraçados.
Em geral, felizmente, a outra pessoa percebe a superficialidade e o convencionalismo do nosso interesse e das nossas perguntas, e cumpre com a sua obrigação, simplesmente dando a resposta chavão:
"Bem, obrigado."
Não há uma partilha verdadeira entre as pessoas. Toda a gente permanece em segurança no isolamento de uma pretensa sofisticação, que é falsa. Parece que todo o grupo se encontra para ficar em solidão, uns junto dos outros.

Nível Quatro: Relatar factos acerca de outros.
Aqui não estamos muito longe da nossa prisão solitária, na direcção de uma comunicação real, porque quase nada expomos de nós mesmos.
Contentamo-nos em dizer aos outros o que alguém disse ou fez. Não damos qualquer toque pessoal ou de auto-revelação aos comentários; simplesmente relatamos factos. Procuramos protecção nos mexericos, em fragmentos de conversa e nos "casos" sobre os outros. Nada oferecemos de nós mesmos, nem convidamos o outro a dar-se-nos em troca.

Nível Três: As minhas ideias e os meus juízos.
Neste nível, há alguma comunicação. Estamos dispostos a dar um passo para além do meu confinamento solitário. Corremos o risco de falar sobre as minhas ideias e revelar alguns dos meus juízos e decisões. No entanto, mantém-se a comunicaçãoi sob estrita censura. À medida que comunico as minhas ideias, observo cuidadosamente as reacções dos outros. Quero estar certo de que me vão aceitar com as minhas ideias, juízos e decisões. Se alguém levantar as sobrancelhas ou apertar os olhos, se alguém bocejar ou olhar para o relógio, retiro-me logo, provavelmente, para terreno mais seguro. Vou refugiar-me no silêncio, ou mudar o tema de conversa, ou, pior ainda, começar a dizer coisas que penso que o outro quer que eu diga. Vou tentar ser aquilo que lhe agrada.

Nível Dois: Os meus Sentimentos (Emoções). Nível Visceral.
Pode não ter ocorrido a muitos de nós que, mesmo revelando as nossas ideias, juízos e decisões, ainda haja muito da nossa pessoa por partilhar. O que me diferencia e individualiza em relação aos outros, que torna a comunicação da minha pessoa um conhecimento único, são os meus sentimentos e emoções.
Se quero realmente que o outro saiba quem sou, devo contar-lhe tudo sobre mim. Os sentimentos subjacentes às minhas ideias e convicções são unicamente meus. Ninguém pertence a um partido político, adopta uma convicção religiosa ou está comprometido com alguma coisa e sente, exactamente, o meu entusiasmo ou a minha apatia. Ninguém experimenta a mesma sensação de frustração que outra pessoa, trabalha sob os meus medos ou sente as minhas paixões. Ninguém se opõe à guerra com a minha indignação particular ou experiencia o patriotismo com o meu sentido ùnico de lealdade.
A maior parte das pessoas sente que o outro não toleraria uma tal honestidade emocional. Preferimos defender a nossa desonestidade, alegando que poderíamos magoar o outro, e, transformando a nossa falsidade em nobreza, iniciamos relacionamentos superficiais. Isto ocorre não só ocasionalmente, mas também com membros da mesma família; chega a destruir a comunhão autêntica dos casamentos.
Como consequência, nem crescemos, nem ajudamos os outros a crescer.
No entanto, se recorrermos à comunicação honesta, aberta, visceral, estabelecemos um encontro verdadeiro sem emoções reprimidas.

Nível Um: A Comunicação Culminante.
Todas as amizades profundas e autênticas devem ser baseadas em absoluta abertura e honestidade. Algumas vezes torna-se difícil a comunicação visceral, mas é exactamente nesse momento que ela é mais necessária.
Na nossa condição humana, isto nunca poderá ser uma experiência permanente. No entanto, haverá momentos em que o encontro atingirá uma comunicação perfeita. Sei que as minhas reacções são partilhadas inteiramente pelo meu amigo; a minha alegria ou tristeza duplica-se nele com perfeição. Somos como dois instrumentos musicais, que tocam exactamente a mesma nota e emitem o mesmo som.

(A. H. Maslow)

quarta-feira, agosto 24, 2005

O Nada e o Infinito

Tentemos pensar no "nada"... Rapidamente nos apercebemos que não é possível. Aquilo em que mais rapidamente pensamos é num espaço vazio, mas isso já é "alguma coisa". O "nada" é algo absolutamente inconcebível, não é possível, não existe.
Pensemos agora numa coisa infinita... Algo de concreto, do mundo físico... Também não existe, não é possível... O infinito só existe na matemática, que é abstracta e não concreta.
Estas duas questões aparentemente do domínio da filosofia e sem qualquer implicação prática, têm importantes consequências ao nível da nossa concepção do Universo. Tornou-se um lugar comum dizer que "o universo é infinito", quando olhamos para o céu estrelado e vemos uma imensidão sem fim com uma infinidade de estrelas, é o que parece óbvio. No entanto, uma análise mais calma do problema mostra que isso é um disparate. O Universo não pode ser infinito nem no tempo nem no espaço, uma vez que, no mundo físco não exitem "infinitos". O Universo teve um princípio, conhecido como Big Bang, e, como tal, terá um fim. As teorias actualmente aceites e demonstradas indicam que o Universo está em expansão. Ora, para algo se estar a expandir, tem que ter um tamanho determinado. Estabelecemos, por isso, que o Universo é finito. Mas, temos um problema: se o Universo é finito tem que ter um sítio onde acaba, uma fronteira. E o que temos para lá dessa fronteira? Nada?... O que existia antes do Big Bang? Nada?... Pensem bem, não é possível conceber um universo que tenha uma fronteira, porque isso implica que exista o "nada", o que está fora da fronteira do universo. Temos um paradoxo entre mãos: o nosso universo tem que ser finito, mas sem fronteiras, no espaço e no tempo. (Na realidade, a questão não é diferente no espaço e no tempo, visto que o tempo é apenas a 4ª dimensão do espaço-tempo.) Se pensarmos bem na nossa matemática, nós conhecemos objectos com essas características... Pensemos a uma dimensão (em linhas): uma circunferência não tem fronteira, não conseguimos dizer onde começa e onde acaba, mas é finita, conseguimos medir o seu comprimento. A duas dimensões, temos a superfície esférica, com as mesmas características. O nosso universo é um objecto semelhante, mas a 4 dimensões. Isto tem algumas consequências interessantes, por exemplo, se voarmos pelo espaço sempre em linha recta, eventualmente, voltamos ao local de partida (tal como acontece se andarmos sobre a superfície da Terra sempre em frente).

segunda-feira, agosto 22, 2005

As palavras


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,

um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade

sábado, agosto 20, 2005

A Passividade

É um dos grandes venenos destes tempos. Tornamo-nos passivos no preciso momento em que decidimos deixar de crescer, no momento em que paramos por pensarmos que não podemos ou não devemos ir mais além.
Carrega-se num interruptor e, pronto, fica-se insensível à riqueza que a vida continua a oferecer-nos.
Mas quem é que disse que existe, que deve existir um limite?
Não existe um limite para a vida interior.
Quem o impõe somos nós, com o nosso pavor, com o nosso medo, com as nossas ideias préconcebidas.
Mas será assim, será mesmo assim?
Não será o "demónio" da passividade que nos leva a ficar assim?
Claro que, se deixo de me esforçar, se deixo de me empenhar, tudo o que criei e memorizei acaba por se ir. E até é justo que se vá: sente-se inútil!
Mas quem decide isso é sempre a nossa mente e não um destino inelutável.

Amar por inteiro


Porque a Amizade não é obrigação
Mas doação e partilha...
Ela é uma pérola preciosa.
A pérola preciosa da
Experiência de amar por inteiro.

Amar por inteiro...
Implica colocar de lado:
As estratégias de sobrevivência que criámos,
Os ecrãs protectores que construímos,
As barreiras que nos impedem
Uma verdadeira partilha de interioridades
Que sabe acolher o eu-real de cada um dos amigos,
Que sabe promover o encontro de ser íntimo de ambos,
Em direcção à liberdade de ser...

Amar por inteiro...
Recebe todo o amor que é dado,
Aceita humildemente,
Venha de onde vier...

Amar por inteiro
Permite a capacidade do fortalecimento interior
À medida que se vai progredindo
Na coragem de o aceitar e receber,
Deixando-se abraçar pelo Amor que enche o coração
E goza cada instante em que nos sentimos amados...


Onde quer que exista um verdadeiro Amor à tua espera... aceita-o e fortalece-te com ele... nele... por meio dele...

sexta-feira, agosto 19, 2005

A Teoria do Caos

Na mitologia grega, o Caos era considerado o estado não organizado ou o nada, de onde todas as coisas surgiam.
A Teoria do Caos, iniciada nos anos 60, não é uma teoria de desordem, mas procura no aparente acaso uma ordem intrínseca determinada por leis precisas.
Permite compreender e dar respostas às flutuações erráticas e irregulares que se encontram na Natureza.

Verificou-se, então, que um sistema passa facilmente de um estado de ordem para um caótico, podendo surgir, por vezes de uma maneira espontânea, dentro do caos, a ordem. E, assim, pequenas diferenças nas condições iniciais de um sistema podem conduzir a diferenças bastante significativas no resultado final, sendo deste modo fortemente abalado o paradigma da física determinista.

Esta ciência tem proporcionado algumas descobertas extraordinárias, levantando questões tão problemáticas que o tornam incrívelmente interessante e desafiante.
Um exemplo tradicional é o "Efeito Borboleta", que diz essencialmente: "Uma borboleta bate asas na China e causa um furacão na América"; por mais absurdo que pareça, é a realidade, os fenómenos climáticos são de comportamento caótico e de difícil previsibilidade.

" O caos não tem estátua nem figura e não pode ser imaginado; é um espaço que só pode ser conhecido pelas coisas que nele existem e ele contém o universo infinito."

Frances A. Yates


Aqui está provada, mais uma vez, a nossa tão intrínseca complexidade.

quinta-feira, agosto 18, 2005

100asas


Ora aqui está o porquê das 100asas...

Penso que chegou a altura de apresentar um dos outros dois membros que partilham este blog comigo e justificar o porquê do nome que escolheu. Ao ouvir a sua explicação, fiquei tão surpreendentemente fascinada que, por minha inteira opção, decidi transmiti-la aos demais.

Pois é... 100 asas...
Porquê?
Porque é? Porque será?
Por que não?
Porque possuo não uma, não duas, nem três,
Mas sim cem asas que me levam
Onde quero viajar a qualquer instante de segundo.
Quando toco minhas costas não sinto nenhuma pena:
Vivo sem asas reais
E, no entanto, o meu imaginário permite-me
Voar até sítios onde nunca estive,
Ver imagens com que nunca sonhei...
E ser aquilo que nunca ousei experimentar...

Assim sou eu... Assim é o meu nome!

(Diva Gregório)

Os sons do silêncio


E eu vi na noite nua
Dez mil pessoas, talvez mais,
Pessoas que falavam sem dizer nada,
Pessoas que ouviam sem escutar,
Pessoas que expressavam olhares sem querer realmente ver,
Pessoas que gesticulavam formas jamais interpretadas,
Pessoas que escreviam canções que vozes
Jamais compartilharam.
Ninguém se atreveu
A perturbar os sons do silêncio.

Afinal, não será assim que comunicamos regularmente uns com os outros?

terça-feira, agosto 16, 2005

A Etnologia


A paritr do simples interesse pelo éxótico até ao olhar científico, decidi saber mais sobre o que é a Etnologia e o que gira em seu torno.

A curiosidade pelo outro vem de trás, talvez desde sempre. Escritores das clássicas civilizações mediterranêas contavam-nos o seu fascínio pelos povos com que estabeleceram contacto, de características raciais, mentais, religiosas e culturais bastante diferentes daquilo a que estavamos habituados.

Nem sempre este encantamento foi pacífico e tolerante, além de espacialmente limitado. Vim a descobrir que só a partir do século XVI, com o movimento geral dos Descobrimentos, é que o conhecimento geral de mundo e do homem, à escala universal, se inicia verdadeiramente. As descrições que desde então aparecem, de todos os povos do globo com os quais os europeus vão contactando, são extremamente abundantes e valiosas.

O espétaculo de um mundo colorido e variado, pleno de raças e gentes completamente distintas e diferentes de nós, ricas de maneiras de ser, comportamentos, formas de vida e costumes peculiares, constitui a própria substância inicial da ciência antropológica e uma espécie de treino etnológico implícito, ao qual chamamos hoje em dia Princípio da Relatividade das Culturas (lei essencial do convívio entre os povos).

Este facto, vem dar a Portugal, pioneiro de tais andanças pelo mundo, uma importância especial. Apesar, do seu inicial interesse pelo lucro fácil , depreciando como inferior o que não era idêntico, mais tarde surgiu a curiosidade séria e orientada pela obra dos outros, reconhecendo-a como um grande testemunho das suas formas específicas de viver. Percorremos caminhos que cortam várias regiões do mundo, desde Brazil a Barcelos, passando pela Guiné, Cabo Verde, Madeira, Java, Goa, Timor, Moçambique, Angola, Açores, Bragança, Régua... É o mundo sem fronteiras, apenas marcos culturais, que aqui nos faz brilhar os olhos ao assomo de objectos que, de imediato, nos leva a imaginar movimentos gostosos.


Ao pesquisar, dei por mim admirada com a vasta quantidade de informação e de dúvidas que se fizeram surgir na minha mente com este novo tema. E como tal, decidi pôr como sugestão, a visita ao Museu Nacional de Etnologia ( Morada: Avenida Ilha da Madeira, 1400 Lisboa). Aqui puderam esclarecer certas dúvidas como: O que significa este termo hoje em dia? Continua a ser explorado? Ao descobrir não estaremos também a destruir? Será que vale a pena a sua descoberta? E em que perspectivas? Será que apesar do seu desenvolvimento cultural e suas descobertas, não teve também as suas fortes e graves consequências para os povos descobertos? A que nível foram integrados? De que modo foram tratados? Que prestígio e contributos têm as suas vivências e objectos? Como, poderemos, depois, concluir que percebemos os restantes povos e vice-versa?

Tais questões podem ser esclarecidas, depende agora do interesse de cada um.

A escrita


E por que não agora a escrita?

Na realidade, por vezes, quando se escreve, nunca se deve andar atrás da beleza porque a beleza que nos é oferecida pelas palavras afectadas e altissonantes é uma beleza totalmente exterior, superficial, uma roupagem sumptuosa e deslumbrante sob a qual, na maioria das vezes, não existe nada.
No entanto, a beleza que se deve perseguir na escrita é, pelo contrário, interior, é a beleza da procura, a beleza da verdade, a beleza da alegria, a intensidade da dor.

Escrever é uma forma de nos conhecermos a nós próprios, de conhecermos e de nos darmos através do conhecimento. Não se escreve, não se deveria escrever, para se conseguir a aprovação e os elogios dos outros, mas para lhes mostrar qualquer coisa que eles não vêem.

As cenas da narrativa devem, em primeiro lugar, ser "vistas": a comunicação emotiva passa pelo olhar e não pelas elaborações racionais do pensamentos. Se queremos, por exemplo, narrar a tarde que passámos em casa de uma pessoa de idade, não devemos pensar na pobre velhinha que ninguém vai visitar, na maldade ou na indiferença de quem a rodeia, isto é, não devemos pôr os nossos pensamentos - os pensamentos banais, os pensamentos imediatos - em cena, devemos vivê-la.
E o que significa vivê-la? Significa descobrir um rosto para a protagonista e "viver" essa tarde, nesse apartamento, com esse rosto. As diversas histórias que são experienciadas diáriamente são excelentes oportunidades de expressão e revelação.

Há que as agarrar e saber aproveitá-las. O que é uma oportunidade? É um ponto de onde a narração pode partir, ou, se já começou, de onde pode seguir por um caminho, em vez de outro. É uma possiblidade que nos é oferecida pelo próprio desenvolvimento da narração. Podemos aceitá-la, ou recusá-la e seguir em frente.

Pois é, escrever é um pouco como deixar-se levar pela corrente de um rio; connosco e com a aguá correm muitos outras coisas, temos de agarrar umas e afastar outras; o mais importante é não ficarmos rígidos, não julgarmos, não decidirmos de antemão, estarmos descontraídos e leves como uma criança que brinca...

domingo, agosto 14, 2005

A leitura


O que significa ler?

Como será o seu mistério?
Pensando bem, ler não é mais do que criar um pequeno jardim no interior da nossa memória. Cada livro vai trazendo alguns elementos, um canteiro, um carreiro, um banco onde podemos descansar quando estamos cansados. Ano após ano, leitura após leitura, o jardim vai-se transformando em parque e, nesse parque, podemos vir a encontrar mais alguém. Pode descobrir-se uma amizade, pode - por que não? - encontra-se o amor, ou mesmo apenas um pouco de alívio num dia particularmente sombrio e tristonho.

Ler não é um dever, nem um cálice amargo que tem de ser bebido até ao fundo, esperando receber-se sabe-se lá que benefícios.
Ler é criar, as mais rebeldes fantasias, é criar uma magia irrepetível e interminável à volta de um mistério sem assunto algum, é criar um pequeno tesouro pessoal de recordações e emoções, um tesouro que não será igual ao de mais ninguém, mas que poderemos partilhar com outras pessoas.
A leitura possibita-nos um estado de liberdade de pensamentos, movendo-nos e transportando-nos por caminhos nunca antes atravessados. Uma viagem só nossa e inigualável a qualquer outra. Permite-nos fazer aquilo que por muitas vezes com os pés na terra não podemos fazer... Imaginar.

sábado, agosto 13, 2005

Criticar

Criticar é usar a razão para contestar. É não estar satisfeito, é não aceitar à partida, é procurar o porquê. A critica permite uma dinâmica de pensamento próprio. É de louvar esta capacidade que possuímos de contemplar, analisar, opinar. É, consequentemente, de lamentar que poucos façam uso dessa capacidade. Exige esforço, empenho e insatisfação. Quando não se está bem, há que tentar desvendar onde reside a génese da questão, e mudar. Não somos seres estagnados, evoluímos. O que nos distingue dos outros animais, para além da razão, é a vontade. Temos a faculdade de escolher o que queremos...por isso, há que fazê-lo mais vezes.



sexta-feira, agosto 12, 2005

A vida

Nós estamos incondicionalmente agarrados á vida, como a pulsação a dar um sentido existencialista a todo o corpo. Mas, no entanto, o que se pensou ter como garantido para toda a eternidade, numa fracção de segundos e sem pensar, pode passar do tudo ao nada.


"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios, por isso, dança, chora, ama, ri e vive intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos."

A nossa vida é só uma passagem muito breve e cada momento é vivido em tempo real, de facto não nos é permitido ensaios. Todos os obstáculos surgem do acaso e sem esperarmos, pelo que temos de ser fortes e positivos ao encarar as dificuldades e viver em pleno os bons momentos que surgem, para quando olharmos para trás sentirmos apenas que valeu a pena! Será que nos esforçamos o suficiente para aproveitar cada momento?
Ou vivemos constantemente preocupados com o que fazer com a nossa vida que acabamos por não vivê-la?

"Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida!" Sérgio Godinho
(Vivamos, portanto, cada dia como se fosse o último da nossa vida.)

segunda-feira, agosto 08, 2005

O isolamento

Ou diremos melhor... O solitário

Não há uma ordem lógica para a utilização de jogos, que são como padrões comuns nas nossas relações humanas.Tornamo-nos peritos ou usamos com mais frequência este ou aquele é algo que vai depender da nossa "programação" e das nossas necessidades. Estes jogos têm uma coisa em comum: mascaram e distorcem a verdade sobre aquilo que eu tenho de melhor para partilhar com o outro, o eu mesmo.

O solitário possui um outro jogo de escape, muito parecido com o intelectualista: o jogo de isolamento. O solitário exclui-se da companhia dos outros, vive sozinho e tenta convencer-se de que gosta de viver assim. Entrando nesse confinamento solitário, consegue escapar dos difíceis desafios da sociedade e da vida humana. Assume uma atitude de presunção; critica as organizações e ridiculazira as "pobres pessoas sociáveis", para quem olha com uma pretensa atitude de superioridade e condescência. Está sempre a dizer que é superior a essas futilidades.

O neurótico sente-se dividido entre impulsos internos de aproximação e afastamento das pessoas. O solitário é um neurótico que opta pelo afastamento. Foge e, como não consegue relacionar-se facilmente com os outros, usa o seu jogo para evitar o fracasso no relacionamento humano. Os efeitos finais são determinados por aquilo que está dentro do solitário, pelas razões que o levam a fugir. Este tipo de jogos muitas vezes pode levar eventualmente a uma explosão de raiva interior devido á hostilidade que sente, como também pode levar a hábitos neuróticos obsessivo-compulsivos, em caso de ansiedade...ou mesmo levar ao abismo entre a pessoa e o resto do mundo, em caso de paranóia. Quando uma pessoa, com tempo indefinido, pensa que ao isolar-se pode estar a fazer algo de reflexivo com a sua vida, pode estar a determinar também um padrão de exclusão, em termos de relacionamentos, perante a sociedade... e o mais inacreditável é que é ela própria que o cria.



quinta-feira, agosto 04, 2005

As linguagens dos Afectos

Pois é... Afectos


As linguagens dos afectos são imensas, tentando alimentar as nossas fomes de ternura, expressas na simplidade dos laços transmitidos através dos pequenos grandes gestos, olhares, proximidade...

Precisamos das amizades bonitas que nos acontecem, com o gosto das palavras trocadas, das procuras partilhadas, dos olhares fecundos, como se andassemos de mãos entrelaçadas pelos campos floridos dos nossos corações pelas florestas das nossas interioridades...
Cada um de nós ama não com o que tem... mas com o que é!

Viver a Amizade é algo de misterioso, de belo, de maravilhoso: É o grande mistério da relação interpessoal, em que o envolvimento psicossomático (olhar, sorrir, escutar, vibrar interiormente...) se assume através do dinamismo interior da nossa sexualidade.
Só se concebe uma verdadeira amizade enquanto intimidade libertadora e que faz tudo para tornar o outro um pouco mais feliz e, portanto, melhor... Cada vez mais e mais Pessoa.

A maioria de nós foi educada na perspectiva de que os sentimentos e as emoções são para dominar, para controlar e, por isso, não aprendemos a expressá-los correctamente através de relações construtivas de profunda intimidade interior... Apesar da nossa imensa ansia de fusao: De nos sentirmos queridos, valorizados, amados e aceites... como somos.
A fusão de que falo, não é confusão, nem perda de identidade. É fonte de construção interior, de reconciliação e de maturação... É fonte geradora de felicidade.

A vida é como um imenso apelo a penetrar o mistério do Amor, e a encontrar companheiros de viagem, que nos ajudem a percorrer o caminho da forma mais positiva e mais bela possivel. Amar a vida em toda a sua dialéctica de luzes e sombras, alegrias e tristezas, traz-nos o sabor do que é realmente um jardim habitado, não por desconhecidos, mas quem se deseja conhecer.

Tento decifrar as mensagens desta teia de acontecimentos diários, aprendendo a saborear cada momento sempre com os olhos postos na Eternidade. Aquilo que se poderia chamar de voar com os pés no chão...

Interrogo-me, duvido... Volto a interrogar-me... E continuo em frente... Pensando... reflectindo...crescendo... Superando as dificuldades com maior ou menor facilidade...

Na sede de Amor profundo dado e recebido, ou seja, de amizades existenciais, procura-se viver relações privilegiadas de liberdade mútua e de afectos partilhados, vividas na descoberta da ternura que não é pieguice nas relações mas capacidade de profunda intimidade em relações harmoniosas e equilibradas a todos os níveis: Afectivo, emocional, intelectual, espiritual, interior...

Sentir o gosto do sentimento de ternura e da relação da abertura ao outro no mais profundo do Ser... cria redes de solidariedade e de fraternidade à nossa volta, em que o amor sem calculismo (como alimento interior, bondade irradiada, verdade comunicada... como expressão de emergência do nosso Ser pessoal,único e irrepetível) é doado pelo mais íntimo de nós mesmos... através de uma profundidade expressa através dos gestos, das palavras, das atitudes, da postura... atingindo e penetrando todas as nossas margens vivenciais.

Os que amamos fazem parte das nossas realidades existenciais mais profundas e mais bonitas... E... com eles... vamos escrevendo história, através dos momentos que vamos partilhando, cada vez que nos respeitamos, ao olharmo-nos como pessoa; cada vez que nos estimamos, ao querermos mutuamente o máximo bem; cada vez que partilhamos o que somos e temos, sem reservas, sem máscaras, e com muita disponibilidade e acolhimento...




A nossa estrada...

O que será isso de estrada...?!

A pessoa inteira é aquela que estabelece um contacto significativo e profundo com o mundo à sua volta. Ela não só se escuta a si mesma, como também às vozes do seu mundo. A extensão da sua própria existência e infinitamente multiplicada pela empatia que sente em relação aos outros. Ela sofre com os infelizes e alegra-se com os bem-aventurados.

Ela nasce a cada primavera e sente o impacto dos mistérios da vida: o nascimento, o crescimento, o amor, o sofrimento, a morte. O seu coração bate com os enamorados, ela conhece também o desespero, a solidão dos que sofrem sem alívio; e os sinos, quando tocam, ressoam de maneira singular para ela.

Como a vida acaba por ser bela em toda a sua plenitude... os seus percursos traiçoeiros, os seus caminhos eluviados de alegria e de recantos floridos que nos enebriam a alma como um narcótico e todos os seus devaneios conhecedores de novas descobertas, (bons ou maus pouco interessa) extremamente enriquecedores... Acabando tudo isto por constituir e formular uma tal desesperada e tao desejada perfeição? ou será afinal de contas imperfeição?
Cabe-nos a nós descobrir...e se necessário corrigir...