quinta-feira, março 30, 2006

Poesia...

Pois então deixo-vos aqui poema...

Quando uma velhota morreu na ala de geriatria de um pequeno hospital perto de Dundee, Escócia, pensou-se que não teria deixado nada de valor.
Mais tarde, quando as enfermeiras estavam a arrumar os seus pertences pessoais, encontraram este poema.

A sua qualidade e conteúdo impressionaram de tal maneira o pessoal hospitalar que foram feitas cópias e distribuidas por toda as enfermeiras.
Uma das enfermeiras levou a sua cópia para a Irlanda. A alma da velhota conquistou a eternidade quando foi editada na News Magazine of the North Ireland Association for
Mental Health. Foi também feita um apresentação de slide baseados no seus simples, mas eloquente, poema.

E esta velhota escocesa, com nada para dar ao mundo, é agora a utora deste poema "anónimo" que voa por todo o mundo. Mostra que, relamente, todos nos deixamos "as nossas pegadas no tempo"...




"An Old Lady's Poem....

What do you see, nurses, what do you see?
What are you thinking when you're looking at me?
A crabby old woman, not very wise,
Uncertain of habit, with faraway eyes?
Who dribbles her food and makes no reply.
When you say in a loud voice, "I do wish you'd try!"
Who seems not to notice the things that you do,
And forever is losing a stocking or shoe.....
Who, resisting or not, lets you do as you will,
With bathing and feeding, the long day to fill....
Is that what you're thinking? Is that what you see?
Then open your eyes, nurse; you're not looking at me.
I'll tell you who I am as I sit here so still,
As I do at your bidding, as I eat at your will.
I'm a small child of ten , with a father and mother,
Brothers and sisters, who love one another.
A young girl of sixteen, with wings on her feet,
Dreaming that soon now a lover she'll meet.
A bride soon at twenty -- my heart gives a leap,
Remembering the vows that I promised to keep.
At twenty-five now, I have young of my own,
Who need me to guide and a secure happy home.
A woman of thirty, my young now grown fast,
Bound to each other with ties that should last.
At forty, my young sons have grown and are gone,
But my man's beside me to see I don't mourn.
At fifty once more, babies play round my knee,
Again we know children, my loved one and me.
Dark days are upon me, my husband is dead;
I look at the future, I shudder with dread.
For my young are all rearing young of their own,
And I think of the years and the love that I've known.
I'm now an old woman ...and nature is cruel;
Tis jest to make old age look like a fool.
The body, it crumbles, grace and vigor depart,
There is now a stone where I once had a heart.
But inside this old carcass a young girl still dwells,
And now and again my battered heart swells.
I remember the joys, I remember the pain,
And I'm loving and living life over again.
I think of the years, all too few, gone too fast,
And accept the stark fact that nothing can last.
So open your eyes, nurses, open and see,
Not a crabby old woman; look closer, see ME!! .."

domingo, março 26, 2006

Poesia paternal

Hoje o meu pai sugeriu citar a importância da poesia... e a sua sabedoria e os seus vastos conhecimentos preencheram toda uma sala. Esta foi a mensagem que ficou:

"A poesia tudo conduz para o belo: exalta a beleza do que é mais belo e acrescenta beleza à mais deformada das coisas; casa o júbilo e o horror, a pena e o prazer, o eterno e o mutável; submete à união, sob o seu brando jugo, todas as coisas irreconciliáveis. Transmuta tudo quanto toca (…)"
Mais do que uma composição em verso em que se exprimem emoções ou sentimentos segundo uma organização rítmica das palavras, mais do que um conjunto das obras em verso, escritas numa língua ou próprias dua época, de um autor, mais do que uma qualidade que desperta um sentimento estético, a poesia é vida e beleza. A poesia flui do nosso interior como uma magia desvairada que encanta os atentos tornando-os atenciosos.

Serão apenas letras, palavras...?
Claro que não.
Não pode ser poeta apenas quem consegue pôr em palavras aquilo que sente, mas também pode ser poeta todo aquele que é capaz de sentir.
Na actual sociedade onde existem tanta formalidade e tanta indiferença...expressar sentimentos é visto como fraqueza e, por sua vez, as pessoas sensíveis são rotuladas de fracas.
Ser poeta nesta sociedade é ser DIFERENTE!
Daí que, poeta também o é aquele executivo bem-sucedido que, ao passar por uma criança que brinca, pára e concede-lhe um pouco do seu precioso tempo brincando com ela e sorrindo...
Daí que, poeta também o é quem, sem nenhum motivo, ao passar por um jardim, apanha uma flôr que de seguida oferece a uma desconhecida, sorrindo...
Daí que, poeta também o é quem, ao cruzar seu vizinho de manhã, não se contenta com um "bom dia" formal e cortês, mas procura saber como ele vai e concede-lhe um pouco do seu tempo conversando com ele e sorrindo...
Daí que, poeta também o é quem, não apenas fica chocado com os horrores de Timor, mas, ao ver a miséria ao lado da sua porta faz tudo o que está ao seu alcance para marcar a diferença...
Poeta é todo aquele que sente e se deixa envolver...que não se contenta em viver rodeado de formalidade e cortesia, que rejeita a indiferença...

Às vezes penso, uma pessoa cresce e deixa de ser poeta... um país novo nasce e apenas tem poetas, com o tempo o país envelhece e surgem os escritores... às vezes um país é sempre novo e não tem mais que os poetas, como Timor, mas tem todos os sonhos do mundo. Os poetas não se dedicam ao egoísmo, sofrem com a noite e o tempo dos assassinos, ai! os poetas morrem em cada verso, os poetas têm olhos como mudas corolas esmagadas, os poetas têm palavras como mãos decepadas, os poetas queimam a alma com o grande silêncio de deus, os poetas cantam nas fronteiras da injustiça, é preciso ler(-te) para acreditar, é preciso resistir com uma lira frente a um público que come hamburgeres e mata sete sonhos por segundo, é preciso viver, escrever, escreviver como dizia um poeta que se perdeu nos contos da cidade, é preciso inventar a felicidade fora do néon dos anúncios, e que os poetas tragam as pombas e as insónias, as palavras doces e todos os insultos do mundo, nada é demais para fazer uma canção.

Tal como meu pai disse:
"A poesia existe, sim, porque pensar incomoda como andar à chuva (Fernando Pessoa) e a palavra poética que recusa a beleza estéril do artifício literário, mas que irrompe com a beleza da inquietação humana e com a nossa capacidade de nos horrorizarmos com as injustiças, (essa palavra poética) é que faz mover as montanhas e derrubar os tiranos. Porque a poesia é mais perigosa que as metralhadoras, cantava Leon Ferré, e elogiar a acção apenas pela acção é cair no culto da ignorância e do militantismo cego que suspeita da poesia, porque a poesia interroga e subverte a normalidade dos que julgam que a luta é apenas acção pelo que acreditamos. Um poeta interroga: em que acreditamos? o que acreditas tu é o mesmo em que eu acredito?... a poesia é uma forma suprema de acção e de resistência passiva, contra a tirania de não pensar e a insensibilidade dos autoritários. Tantas coisas morreram que não há mais que o poeta, cantava Rafael Alberti. Quanto aos propósitos da vida e ao seu mistério a palavra poética serve como o cuspo ou o lodo para atirar na face de deus.
Lutem contra a ignorância e a insensibilidade humanas!!!!!"

sábado, março 18, 2006

A maneira como cada um pensa determina a sua maneira de viver

"A vida não é governada por actos ou circunstâncias extrínsecos, vindos de fora. Cada um de nós cria a sua própria vida pelos pensamentos que tem.
Marco Aurélio afirmou: - «A nossa vida é o que os nossos pensamentos fazem dela.»
Emerson disse: - «O homem é o que pensa ser.»
Jesus Cristo ensinou: - «O que um homem pensa no seu coração é o que ele é.»

Um simples pensamento não constrói ou destrói uma vida, mas um hábito de pensar pode fazê-lo. Não podemos pensar em derrota e sair vitoriosos. Um hábito fixo de esperança é a cura para um coração preocupado e perturbado. Podemos fazer mais contra nós ou a nosso favor que qualquer força estranha. A maneira como cada um pensa determina a sua maneira de viver. Todo o pensamento bom contribui com a sua quota-parte para o resultado final da nossa vida. Um simples pensamento tido pela manhã pode encher o dia inteiro de alegria e de sol, ou de tristeza e desânimo. Quantos dias não têm sido deprimentes devido a um pensamento inconsiderado ou malévolo. Nunca poderemos ser melhores ou mais elevados que o nosso melhor pensamento. Agora falta saber se estamos dispostos a lutar ou não."

domingo, março 12, 2006

A Amizade Verdadeira e Genuína

Em especial, para quem acredita:
"Do mesmo modo que o papel-moeda circula no lugar da prata, também no mundo, no lugar da estima verdadeira e da amizade autêntica, circulam as suas demonstrações exteriores e os seus gestos imitados do modo mais natural possível. Por outro lado, poder-se-ia perguntar se há pessoas que de facto merecem essa estima e essa amizade. Em todo o caso, dou mais valor aos abanos de cauda de um cão leal do que a cem daquelas demonstações e gestos. A amizade verdadeira e genuína pressupõe uma participação intensa, puramente objectiva e completamente desinteressada no destino alheio; participação que, por sua vez, significa identificarmo-nos de facto com o amigo. Ora, o egoísmo próprio à natureza humana é tão contrário a tal sentimento, que a amizade verdadeira pertence àquelas coisas que não sabemos se são mera fábula ou se de facto existem em algum lugar, como as serpentes marinhas gigantes. Todavia, há muitas relações entre os homens que, embora se baseiem essencialmente em motivos egoístas e ocultos de diversos tipos, passam a ter um grão daquela amizade verdadeira e genuína, o que as enobrece ao ponto de poderem, com certa razão, ser chamadas de amizade nesse mundo de imperfeições. Elas elevam-se muito acima dos vínculos ordinários, cuja natureza é tal, que não trocaríamos mais nenhuma palavra com a maioria dos nossos bons conhecidos, se ouvíssemos como falam de nós na nossa ausência. "

Arthur Schopenhauer

O coração dos verdadeiros amigos é suficiente para caber o mundo dentro dele!
A amizade verdadeira não mede forças, não humilha, não envergonha, não despreza...dura até essa mesma a desejar...mas como esta não escolhe um prazo limite torna-se em algo indescritivel e indefinido! Mesmo com interrupções, por que todas as relações as têm, a amizade genuína é pura na sua essência e não deixa mazelas para mais tarde recordar!

Como diria Platão, a amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro.

terça-feira, março 07, 2006

Força da ignorância

"Por que causa a ignorância nos mantém agarrados com tanta força? Primeiro, porque não a repelimos com suficiente energia nem usamos todas as nossas forças para nos libertarmos dela; depois, porque não confiamos o bastante nas lições dos sábios nem as interiorizamos como devíamos, antes tratamos uma tão magna questão de forma leviana. Como pode alguém, aliás, aprender suficientemente a lutar contra os vícios se apenas dedica a esse estudo o tempo que os vícios lhe deixam livre?...

Nenhum de nós aprofunda bastante esta matéria; abordamos o assunto pela rama e, como gente extremamente ocupada, achamos que dedicar umas horas à filosofia é mais do que suficiente. E o que mais nos prejudica é a facilidade com que o nosso amor próprio se satisfaz. Se encontramos alguém que nos ache homens de bem, homens esclarecidos e irrepreensíveis, logo nos mostramos de acordo! Nem sequer nos contentamos com louvores comedidos: tudo quanto a adulação despudoradamente nos atribui, nós o assumimos como de pleno direito. Se alguém nos declara os melhores e mais sábios do mundo, nós assentimos, mesmo quando sabemos que esse alguém é useiro e vezeiro na mentira!

A nossa autocomplacência vai mesmo tão longe que pretendemos ser louvados em nome de princípios que as nossas acções frontalmente desmentem (...) A consequência é que ninguém mostra vontade de corrigir o seu carácter, pois cada um se considera a melhor pessoa deste mundo..."

Séneca, em "Cartas a Lucílio"


No entanto, agora que penso melhor não deveria ser "Força de imagem" ao invés de "força da ignorância"? Olha que não sei...

quarta-feira, março 01, 2006

Um mundo do "usa e deita fora"

Há uns tempos atrás, encontrei uma amiga minha japonesa que, ao contrário de todas as outras pessoas, passeava com calma e serenidade pelas ruas de Lisboa. Perto de uma das lojas do Chiado, lá estava ela com o seu estilo tradicional muito típico. Não considerei aquele reencontro uma grande coincidência, já que aquela é uma das suas ruas favoritas... ela, tal como eu, adora Fernando Pessoa e faz de tudo para "estar" um bocadinho com ele! No meu caso é mais em leitura.
Decidimos ir tomar um chá de hortelã-pimenta e falar das nossas paixões. A conversa virou-se então para a cultura tradicional japonesa. Ela explicou-me que, na cultura deles, a ideia de estalagem é totalmente diferente da nossa. "Nós", disse-me ela, "vamos para uma estalagem quando necessitamos de um período de recolhimento interior. Para estarmos sozinhos, em liberdade." E de facto, já não é a primeira vez que me consta que não existe um local destinado à "sala de jantar" na maior parte das estalagens locais japonesas. Comer é considerado um facto extremamente privado, que não deve ser partilhado com nenhum estranho. Por isso, cada um recolhe-se às 6h, com um quimono (fato que os faz sentirem bastante confortáveis), para o seu quarto para ser servida a refeição. Passam o dia a olhar pela janela e a ouvir o zumbido dos insectos, acompanhado pelo rumor da água e do vento que abanam as folhas. Ela contou-me também que, por vezes, quando está mergulhada num silêncio tão "cheio", com a alegria de uma emoção inesperada, sente que o tempo se dilata, e tudo se despe das roupagens habituais para se carregar de sacralidade.

No Japão, são poucos os objectos brilhantes e até mesmo os espelhos estão pudicamente cobertos com panos. De acordo com a cultura do antigo Japão, tudo o que tem brilho não tem valor, é vulgar. Uma chávena nova ou um frasco novo são simplesmente horríveis. Vulgares, porquê? Porque um objecto que brilha é um objecto “novo” e, como é novo ainda não foi enriquecido pela nobreza que o uso lhe confere. Uma chávena esbeirada, uma chávena escurecida pelos muitos chás que nela foram bebidos, é uma chávena que viveu connosco, um objecto que tratámos com paciência e cuidado, um objecto que, com o tempo, se foi carregando dos nossos humores e dos nossos sentimentos e que nos recompensou, servindo-nos.

Agrada-me tanto esta ideia! Será que introduzir esta “ética” em relação aos objectos na loucura febril e suicida do usa e deita fora seria um início de salvação? Serve-me, não me serve, estou farto.
Esta opacidade tão cheia de significado das chávenas japonesas também se pode aplicar à amizade. Uma longa amizade tem exactamente os mesmos sinais que uma chávena enegrecida pelo tempo; há gretas e sombras nos objectos quotidianos tal como há momentos de arrufo e de sombra nas amizades. Para não se deitar fora uma chávena, ou uma amizade, tem de haver dois sentimentos já invulgares mas muito importantes: a paciência e a fidelidade. A paciência é como um tijolo, a fidelidade é como uma raiz. A paciência é o antídoto da pressa, a fidelidade é o antídoto do consumo. Se as associo a uma imagem física, penso em pequenos tijolos ou em raízes. Com os tijolos constrói-se, graças as raízes, cresce-se.