domingo, setembro 16, 2007

Serão sempre apenas 10 passos


Um dia sereno de inverno, cheio de sol, de ar gelado a bater na cara. Uma rapariga seguia sozinha pela estrada que atravessa o campo de uma povoação até à próxima. Focando o seu olhar nas pedras do asfalto que brilham em cores diferentes a cada paço seu. Deixando para trás algo que lhe pesa, seguindo para lado nenhum, olhando, dentro de si para o lado de onde foge.

Quando fugimos de alguma coisa, significa que isso nos persegue. Continuaremos a fugir enquanto isso nos perseguir. Ficamos tranquilos por instantes, mas sempre reticentes… Será que vai surgir mesmo à nossa frente quando menos estamos à espera, será que nos observa pelas costas enquanto caminhamos descansados.

Ela saiu por sua livre vontade, saiu e voltou para levar algo que lhe faria falta. Nessa altura ela foi expulsa. Assim não se sentiu como uma fugitiva. Fechou a porta acompanhada com as palavras não voltes mais a esta casa. Desta forma, aparentemente tranquila, mas profundamente triste ela seguiu pela estrada for a. Transbordada pelo sentimento de raiva, fúria ela enfiava num caixote de lixo imaginário todas as brigas a que foi obrigada a assistir, toda a loiça suja, toda a roupa por passar a ferro, todas as mágoas que lhe colocavam nas mãos para reconciliar, todos os bonecos partidos das crianças. Uma a uma ela pensava eliminar aquelas coisas que nunca lhe davam paz. Sem ter a quem telefonar, sem ter para onde ir, ela sentia-se livre, mas só. Completamente só numa luta que pelos vistos era apenas dela. Há anos atrás ela pensou ter escapado, mas no momento em parecia estar tudo em ordem “a coisa” apanhou-a inesperadamente, e segurou com força.

Após uma noite fria na rua com os seu pensamentos, na manhã seguinte ela já se via reintegrada novamente no seu contentor imaginário que continha todas aquelas coisas que ela quis rejeitar no dia anterior. Zangada, ela aceitou aceitar. Ela aceitou dar o seu melhor. Fugir era impossível, talvez fosse possível resolver.

Olhando para trás, ouvia palavras que a repreendiam, não podes faltar ás aulas, tens que fazer os trabalhos de casa, vai lavar a loiça, vai passar a roupa, faz o jantar, pões a mesa, lava a loiça, não podes ir sair, vai arrumar o teu quarto. E acabando com largas reticências correspondentes às palavras que ela não queria sequer repetir na sua cabeça.

Talvez eu não me tenha esforçado o suficiente, eu vou tentar novamente, eu tenho que conseguir resolver isso, eu tenho que conseguir criar a harmonia. Tudo isto para se convencer de que ainda havia alguma possibilidade, apesar de, no fundo, a sua esperança ser apenas for a desse espaço.

Mas afinal o que sou eu para eles, não passo de uma criada, tenho que tratar de manter a casa em ordem, mas eles nunca estão satisfeitos com isso, não me podem dizer que limpei alguma coisa mal, porque não o faço mal, mas há sempre algo que eu posso não ter limpo. Eu trato das crianças, não saio da cozinha desde o momento em que chego a casa ate à noitinha e depois acusam-me de que não vou conviver com eles. Tudo o que faço nunca é demais é sempre a menos. Tudo me parece um caos, impossível de resolver

Passando por todos estes pensamentos na sua cabeça, ela olha novamente para a estrada, passo a passo, o campo a sua volta, o alcatrão sempre da mesma cor. Ela sussurrou para si mesma apenas, em frente. São apenas alguns passos entre a ultima batalha até uma nova batalha. Quem abandona a sua casa fica indefeso dos novos deuses, ela sabia tudo, porém o mais importante seriam sempre os próximos passos.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Dalai Lama em Portugal



Nos dias 13, 14 e 14 de Setembro, das 9.30 às 11.30 e das 14 às 16 horas, o Dalai Lama dará, em Portugal, no auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, 3 dias de ensinamentos.

Estes ensinamentos consistirão num comentário da obra de Shantideva "Bodhicaryavatara – A via do Bodhisattva"

No dia 16 de Setembro, pelas 15h00, no Pavilhão Atlântico, dará uma conferência pública sobre o tema "O Poder do Bom Coração".

Para mais informações visita o site oficial da sua visita a Portugal: www.dalailamalisboa2007.com