segunda-feira, março 19, 2007

O que fazer?

O que fazer quando me sinto triste
Se me invade o medo…
Pelos cantos do meu quarto
Vagueiam sombras,
Escondem-se olhares nas cortinas.
O que fazer se o sono foge
O que fazer
Quando dirigem para mim
Padrões de letras desagradáveis
Hoje… o que fazer
Quando me fazem regredir
Se não existe nada, para desistir
Se tudo o que tenho é flores
Prontas a florir.
O que fazer quando me exigem
Algo que não tenho
Ou não me aceitam tendo como sou.
O que fazer se há forças que escasseiam
Por quererem mais do que existe
Por quererem abraçar no vértice
A base do cone.
O que fazer quando me usam
Como um livro colorido
E deitam fora quando vêem que não sou
O que fazer aos meu defeitos,
O que fazer aos novos
Poderes preconceitos.
O que fazer às tropas que se abatem
Aos olhos dos que me retratam.
O que fazer quando o mundo
Só aceita flores abertas.
O que fazer quando não sei o que fazer.
Quando sem possuir há algo a perder.
O que fazer se as pessoas
Não entendem linhas soltas.
O que fazer quando te querem
Como algo outro
O que fazer p’ra não sofrer,
P’ra não fazer sofrer.
O que fazer p’ra não chorar.
Para que deixem esta flor brotar
Para que deixem esta flor abrir.
O que fazer p’ra não partir
Para não ver morrer
P’ra não matar.
O que fazer p’ra conseguir
Deixar viver
Para viver
O que fazer?

sábado, março 17, 2007

QUEM ESPERA SEMPRE ALCANÇA



Quem espera sempre alcança
Dizem os velhos nos ditados,
Repetem-no nos nossos lábios
E não se cansam

Esperar o que?
Se não sabemos,
Se estamos cegos e não vemos.
Esperar por algo que passou?
Desesperar?
Pelo que foi e não voltou.

Buscar razões,
Ouvir sermões
Da nossa consciência.
Rodopiar
Pela camada de valência,
Em vez de procurar olhar
P’ra onde pões o pé.

Esperar é crer,
E tendo confiança
É saber,
Onde se vai chegar
Pelo caminho que se leva.
Poder escolher
Pelo que a paisagem nos remete.

Não vale a pena matutar
Pois o que já passou
Não vai voltar.
Pensando assim nas coisas más
Sentes-te alegre.
Depois do funeral
Guardas as pás p’ra outro enterro.

A água corre,
O vento sopra,
A noite chega, mas
Antes do sol nascer
A sua luz já ilumina a terra.

Esperar... é ser
Aquilo que se quer receber.
Jogar sem medo de perder.
Para ganhar
Ser vencedor,
E receber vitória.


segunda-feira, março 12, 2007

A sonhar uma realidade



Eu penso em ti meu amor. Eu penso em ti constantemente. A tua imagem em mim e como o sopro de um vento quente, que me invade o corpo quando penso em ti meu amor.
Sinto a falta da tua presença junto a mim. Imagino um beijo teu, numa situação ocasional em que ainda não nos conhecemos. E como se não te conhecesse, imagino-te como um sonho, como uma onda de calor que me atira ao chão numa noite de verão. E imagino o teu corpo por cima do meu, apertando-me contra areia numa praia vazia. Sinto o teu cheiro que me possui. As tuas mãos meigas percorrem a minha pele, acariciando, cortando o leve manto que me cobre, enchendo-me de um desejo quase insuportável. Entro em êxtase. Sinto os teus lábios húmidos, desejo-te mais do que nunca.



As tuas mãos escorregam pelos meus braços suados, agarram-me os pulsos. Sinto a tua força, o teu poder sobre mim. E rendo-me a ti inteiramente. O teu peito une-se com o meu. Os nossos corações batem ritmicamente ao mesmo ritmo.
E vejo o meu corpo por cima do teu, percorro a tua pele com a minha face. A tua língua que se enrola com a minha num longo beijo, tão forte. As tuas mãos seguram os meus cabelos, apertas-me contra os teus lábios, beijas-me a face, o pescoço, mordes-me. Os nossos corpos entrelaçam-se e a areia que nos envolve é veludo. Eu percorro o teu corpo com os meus lábios, respiro sufocada pelo calor que nos envolve. O teu desejo, o meu desejo. E já não estamos presentes no universo. Existimos apenas um para o outro. Somos apenas um foco de luz e existimos dentro dele.
Os teus dedos deslizam pela minha pele, seguras-me nas ancas, respiras o meu cheiro. Eu aperto as tuas nádegas. Penetras-me… Fundimo-nos num prazer imenso, incontrolável. È como um som, que se torna tão agudo, que o deixamos de ouvir. Eu grito, beijo-te, tu beijas-me, seguras-me apertas-me, tu gritas.
A minha pele quer fazer parte da tua, as tuas mãos querem penetrar a minha pele. A nossa respiração ofegante, passa a ser apenas uma. E nós partimos e de repente eu tenho a noção de que nunca estivemos separados. Que somos um do outro como de nós mesmos.


Eu não me vou perder...




Eu não me vou perder
Dizia eu seguindo o escuro
Pois eu não via
Que não conseguia ver
Achava o pântano seguro

Deixem-me andar,
Dêem-me espaço
Dizia eu, atando
Os meus próprios pés
Diziam-me que faço o laço
Que me vai enforcar de vez.

Dizia eu
Afastem-se de mim
Eu quero paz de vós
Não quero mais viver assim
A minha música
Não é a que o meu pai compôs

Dizia eu
Achando-me correcta
E ignorando tudo o que é amar
Ia torcendo a minha recta,
Sem ver
Que certamente me iria afogar

E quando o chão cedeu,
E eu caí
Pareceu-me que voava
Apenas lá no fundo
Quando dei por mim
Sangrava.
Não me importei
Estava sozinha e assim fiquei

Mirei o céu
Olhei a terra
Fiquei deitada sem notar
Que o pântano me estava a sugar
E era comigo que eu estava em guerra

E foi então que vi
O meu falcão
Sobrevoar o céu
Tentei voar,
Não consegui
Estiquei as mãos
Tentei gritar.

Mas ele não ouvia
O meu choro.
Nessa altura entendi
Que deveria ter ouvido o coro
Que ignorei durante anos
Sem vergonha



Voltei-me para trás e vi
As lágrimas nos olhos
Daqueles que me queriam paz
E queriam que eu tivesse sonhos
E o barco
Pronto para me levar.

E desta vez
A consciência me fez chorar
Surgiu a humildade
De pedir ajuda
Estendam-me as mãos
Quero embarcar
Todo o meu corpo aqui
É uma dor aguda.

Eles puxaram-me
P’ra cima sem demora
Tiraram-me a roupa suja
E deitaram fora.
Puseram-me em pé
E eu cambaleando
Dei um passo no convés.

E foi assim
Que começou esta viagem.
Não me perdi,
Pois nunca me perderam
Há mar aqui,
As tempestades esperam
E eu navego com coragem!

quinta-feira, março 01, 2007



Onde se esconde o meu olhar?
Eu olho o ar.
Olho o ar e vejo o espaço.
O meu olhar percorre o chão.
Eu vejo faces,
Vejo o céu nas poças de água.
Olho em frente, os carros passam.
Poucos, mas eu espero.
E o sinal fica vermelho,
Eu atravesso a estrada.
Sigo em frente,
Eu não preciso de olhar,
Conheço bem demais
Este caminho.
Abandonado, de madrugada,
Prepara-se para acordar,
A vida enche-o aos poucos.
A luz solar preenche o ar.
O meu olhar fica sozinho
E eu estou quase a chegar.
E olho para trás.
Vejo uma jovem,
Vejo… uma criança no baloiço.
Vejo um bebe no berço a chorar.
Vejo uma mãe sorrindo
A mesma mãe cansada.
Um sol antigo que outrora
Se escondia entre as nuvens
Que surpreendia o homem
E acariciava as gotas que caíam.
Vejo o olhar dos que chegavam.
Ainda antes da chamada
Vejo o olhar dos que partiam.
Pelo caminho… sem dizer nada.
E vejo o mar…
Mas afinal,
Onde se esconde o meu olhar?
Nos olhos dos que ele habita,
Nos lábios dos que o descrevem.
Esconde-se á minha frente
Nos meus olhos, silencioso
Na superfície das coisas que ele fita
Sem se fazer notar.
Eu vejo mais do que ele
Sorrateiro, subindo uma escada
Ele não vê a casa inteira.
Ele não vê a superfície da tua pele
Além da veste.
E na floresta obscura
Ele não vê uma clareira.
Eu vejo luz no escuro.
Eu vejo te mesmo não estando perto.
E ao adormecer escondida no meu quarto
Eu vejo o por do sol no mar.
Mas eu não vejo o meu olhar.
Vejo apenas
Brilhando nos teus olhos
O reflexo do luar
A luz dos meus.