quarta-feira, agosto 24, 2005

O Nada e o Infinito

Tentemos pensar no "nada"... Rapidamente nos apercebemos que não é possível. Aquilo em que mais rapidamente pensamos é num espaço vazio, mas isso já é "alguma coisa". O "nada" é algo absolutamente inconcebível, não é possível, não existe.
Pensemos agora numa coisa infinita... Algo de concreto, do mundo físico... Também não existe, não é possível... O infinito só existe na matemática, que é abstracta e não concreta.
Estas duas questões aparentemente do domínio da filosofia e sem qualquer implicação prática, têm importantes consequências ao nível da nossa concepção do Universo. Tornou-se um lugar comum dizer que "o universo é infinito", quando olhamos para o céu estrelado e vemos uma imensidão sem fim com uma infinidade de estrelas, é o que parece óbvio. No entanto, uma análise mais calma do problema mostra que isso é um disparate. O Universo não pode ser infinito nem no tempo nem no espaço, uma vez que, no mundo físco não exitem "infinitos". O Universo teve um princípio, conhecido como Big Bang, e, como tal, terá um fim. As teorias actualmente aceites e demonstradas indicam que o Universo está em expansão. Ora, para algo se estar a expandir, tem que ter um tamanho determinado. Estabelecemos, por isso, que o Universo é finito. Mas, temos um problema: se o Universo é finito tem que ter um sítio onde acaba, uma fronteira. E o que temos para lá dessa fronteira? Nada?... O que existia antes do Big Bang? Nada?... Pensem bem, não é possível conceber um universo que tenha uma fronteira, porque isso implica que exista o "nada", o que está fora da fronteira do universo. Temos um paradoxo entre mãos: o nosso universo tem que ser finito, mas sem fronteiras, no espaço e no tempo. (Na realidade, a questão não é diferente no espaço e no tempo, visto que o tempo é apenas a 4ª dimensão do espaço-tempo.) Se pensarmos bem na nossa matemática, nós conhecemos objectos com essas características... Pensemos a uma dimensão (em linhas): uma circunferência não tem fronteira, não conseguimos dizer onde começa e onde acaba, mas é finita, conseguimos medir o seu comprimento. A duas dimensões, temos a superfície esférica, com as mesmas características. O nosso universo é um objecto semelhante, mas a 4 dimensões. Isto tem algumas consequências interessantes, por exemplo, se voarmos pelo espaço sempre em linha recta, eventualmente, voltamos ao local de partida (tal como acontece se andarmos sobre a superfície da Terra sempre em frente).

4 Comments:

Blogger Vespinha said...

Muito curioso.
Engraçado como empregamos algumas palavras em determinados contextos que de facto não fazem sentido nenhum!

Bj da Vespinha

8/24/2005 11:54 da tarde  
Blogger JNM said...

Excelente post. Muito bem conseguido. Duas questões fundamentais e apenas como notas. A exactidão do que aqui está escrito pressupõe que quando se fala em finito se esteja a falar num intervalo que se estuda. Como na matemática se estuda em intervalos (até do menos infinito ao mais infinito).

O ponto seguinte reside efectivamente na matemática. Entre zero e um, no eixo das ordenadas pode estar um infinito. A abstracção matemática, permite dizer que nesse intervalo existe o infinito, donde o princípio (0)e o fim (1) existem, mas podem nunca ser alcançados.

Um outro ponto indica que se descobriu que o vácuo, não é vácuo. Isto é, a ausência de tudo é (como dizes)improvada, ou provada a contrario. Isto porque se no vácuo não há atrito não se conseguia entender porque um fotão (uma particula de energia solar) perdia qualidades. Prova-se então que isto só é possível caso haja atrito, logo, não existe vácuo.
Ora a teoria do Big Bang (aceite e defendida pelo Vaticano) pressupõe a existência de toda a matéria do Universo em massa crítica. Que se espande no vácuo, por uma vontade divina, não sofrendo os limites do atrito...mas isto é tema de uma outra discussão.

Não existem linhas rectas. Ou seja, tendo como superfície uma calote esférica, qualquer linha que nela se traçe será uma curva, nunca uma recta (com o sentido que a geometria lhe dá)

8/25/2005 12:19 da manhã  
Blogger ManiacaDosPorques said...

Mais uma vez adorei a tua explicação sobre o infinito e o nada...adorei o que li e li com entusiasmo e fascínio.

Mas desta vez fiquei um bocado confusa. Não sei se foi por ser escrito em vez de oralmente.
Tenho certas dúvidas em relação à tua segunda explicação.

No entanto, peço-te depois que me expliques pessoalmente. ;)

Beijinhos

8/26/2005 7:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Aeroespacial:

Em resposta ao teu post, que me parece, efectivamente, oportuno e inteligente, quero proporcionar a seguinte reflexão: Estaremos nós, humanos, dotados de capacidades sensoriais que nos permitam entender a questão do "nada e o infinito" na sua plenitude? Isto é, o mundo já existia (ou pelo menos algo semelhante) quando "cá chegámos", por assim dizer. Não será, então, algo presunçoso estipular um limite para o mensurável (o referido comprimento de Planck)? O infinito será infinito, ou somos nós que não sabemos como atingir o fim? Ou somos nós que não conseguimos conceber que, para lá do fim, não haja absolutamente nada (se é que o nada existe), pelo simples facto de, para lá da parede do quarto, estar a sala, ou a cozinha?
Bem sei que, para cuidarmos do espírito, temos que discutir alguma coisa, mas um cérebero é tão pequeno à escala do universo!

8/29/2005 12:55 da manhã  

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