quinta-feira, agosto 25, 2005

O encontro interpessoal e os cinco níveis de comunicação

Alguém distinguiu de maneira hábil cinco níveis de comunicação, através dos quais as pessoas podem relacionar-se umas com as outras. Tratam-se de cinco graus de disposição da pessoa para sair de si mesma e comunicar com os outros. Essa pessoa representa o ser humano, obrigado por uma insistência interna a ir ao encontro dos outros, e,ao mesmo tempo, com medo de o fazer.

A maioria de nós emite apenas uma resposta fraca ao convite para o encontro com os outros e com o mundo. A razão disso é que nos sentimos desconfortáveis, quando expomos a nossa nudez como pessoas. Alguns de nós apenas desejam fazer essa viagem, enquanto outros encontram, de alguma forma, até à liberdade.

Nível Cinco: Conversa chavão.
Representa a resposta mais fraca ao dilema humano e a mais baixa na auto-comunicação. Na verdade, não há aqui qualquer tipo de comunicação, a não ser por acidente. Conversamos através de chavões ou frases feitas tais como: "Como vai?"... Como vai a família?... Por onde tem andado?..." Dizemos coisas do tipo "Gosto muito do teu vestido"... "Espero que possamos ver-nos em breve"... "Foi um prazer encontrá-lo."
Na verdade, quase nada do que dizemos ou perguntamos é verdadeiro. Se a outra pessoa ressolvesse responder objectivamente à nossa pergunta "Como vai?", ficaríamos embaraçados.
Em geral, felizmente, a outra pessoa percebe a superficialidade e o convencionalismo do nosso interesse e das nossas perguntas, e cumpre com a sua obrigação, simplesmente dando a resposta chavão:
"Bem, obrigado."
Não há uma partilha verdadeira entre as pessoas. Toda a gente permanece em segurança no isolamento de uma pretensa sofisticação, que é falsa. Parece que todo o grupo se encontra para ficar em solidão, uns junto dos outros.

Nível Quatro: Relatar factos acerca de outros.
Aqui não estamos muito longe da nossa prisão solitária, na direcção de uma comunicação real, porque quase nada expomos de nós mesmos.
Contentamo-nos em dizer aos outros o que alguém disse ou fez. Não damos qualquer toque pessoal ou de auto-revelação aos comentários; simplesmente relatamos factos. Procuramos protecção nos mexericos, em fragmentos de conversa e nos "casos" sobre os outros. Nada oferecemos de nós mesmos, nem convidamos o outro a dar-se-nos em troca.

Nível Três: As minhas ideias e os meus juízos.
Neste nível, há alguma comunicação. Estamos dispostos a dar um passo para além do meu confinamento solitário. Corremos o risco de falar sobre as minhas ideias e revelar alguns dos meus juízos e decisões. No entanto, mantém-se a comunicaçãoi sob estrita censura. À medida que comunico as minhas ideias, observo cuidadosamente as reacções dos outros. Quero estar certo de que me vão aceitar com as minhas ideias, juízos e decisões. Se alguém levantar as sobrancelhas ou apertar os olhos, se alguém bocejar ou olhar para o relógio, retiro-me logo, provavelmente, para terreno mais seguro. Vou refugiar-me no silêncio, ou mudar o tema de conversa, ou, pior ainda, começar a dizer coisas que penso que o outro quer que eu diga. Vou tentar ser aquilo que lhe agrada.

Nível Dois: Os meus Sentimentos (Emoções). Nível Visceral.
Pode não ter ocorrido a muitos de nós que, mesmo revelando as nossas ideias, juízos e decisões, ainda haja muito da nossa pessoa por partilhar. O que me diferencia e individualiza em relação aos outros, que torna a comunicação da minha pessoa um conhecimento único, são os meus sentimentos e emoções.
Se quero realmente que o outro saiba quem sou, devo contar-lhe tudo sobre mim. Os sentimentos subjacentes às minhas ideias e convicções são unicamente meus. Ninguém pertence a um partido político, adopta uma convicção religiosa ou está comprometido com alguma coisa e sente, exactamente, o meu entusiasmo ou a minha apatia. Ninguém experimenta a mesma sensação de frustração que outra pessoa, trabalha sob os meus medos ou sente as minhas paixões. Ninguém se opõe à guerra com a minha indignação particular ou experiencia o patriotismo com o meu sentido ùnico de lealdade.
A maior parte das pessoas sente que o outro não toleraria uma tal honestidade emocional. Preferimos defender a nossa desonestidade, alegando que poderíamos magoar o outro, e, transformando a nossa falsidade em nobreza, iniciamos relacionamentos superficiais. Isto ocorre não só ocasionalmente, mas também com membros da mesma família; chega a destruir a comunhão autêntica dos casamentos.
Como consequência, nem crescemos, nem ajudamos os outros a crescer.
No entanto, se recorrermos à comunicação honesta, aberta, visceral, estabelecemos um encontro verdadeiro sem emoções reprimidas.

Nível Um: A Comunicação Culminante.
Todas as amizades profundas e autênticas devem ser baseadas em absoluta abertura e honestidade. Algumas vezes torna-se difícil a comunicação visceral, mas é exactamente nesse momento que ela é mais necessária.
Na nossa condição humana, isto nunca poderá ser uma experiência permanente. No entanto, haverá momentos em que o encontro atingirá uma comunicação perfeita. Sei que as minhas reacções são partilhadas inteiramente pelo meu amigo; a minha alegria ou tristeza duplica-se nele com perfeição. Somos como dois instrumentos musicais, que tocam exactamente a mesma nota e emitem o mesmo som.

(A. H. Maslow)

2 Comments:

Blogger JNM said...

tu descobres cada coisa. mais uma vez excelente. Já pensaste numa carreira na Psicologia?

8/25/2005 9:04 da tarde  
Blogger ManiacaDosPorques said...

Interessante pergunta. Já me questionei várias vezes sobre isso porque é uma área que me fascina e muito.

Mas primeiro vou fazer o meu curso de Recuperação de Património...e, se possível, a seguir gostaria de fazer um de Literatura ou mesmo Psicologia.

8/26/2005 1:28 da tarde  

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