terça-feira, agosto 16, 2005

A escrita


E por que não agora a escrita?

Na realidade, por vezes, quando se escreve, nunca se deve andar atrás da beleza porque a beleza que nos é oferecida pelas palavras afectadas e altissonantes é uma beleza totalmente exterior, superficial, uma roupagem sumptuosa e deslumbrante sob a qual, na maioria das vezes, não existe nada.
No entanto, a beleza que se deve perseguir na escrita é, pelo contrário, interior, é a beleza da procura, a beleza da verdade, a beleza da alegria, a intensidade da dor.

Escrever é uma forma de nos conhecermos a nós próprios, de conhecermos e de nos darmos através do conhecimento. Não se escreve, não se deveria escrever, para se conseguir a aprovação e os elogios dos outros, mas para lhes mostrar qualquer coisa que eles não vêem.

As cenas da narrativa devem, em primeiro lugar, ser "vistas": a comunicação emotiva passa pelo olhar e não pelas elaborações racionais do pensamentos. Se queremos, por exemplo, narrar a tarde que passámos em casa de uma pessoa de idade, não devemos pensar na pobre velhinha que ninguém vai visitar, na maldade ou na indiferença de quem a rodeia, isto é, não devemos pôr os nossos pensamentos - os pensamentos banais, os pensamentos imediatos - em cena, devemos vivê-la.
E o que significa vivê-la? Significa descobrir um rosto para a protagonista e "viver" essa tarde, nesse apartamento, com esse rosto. As diversas histórias que são experienciadas diáriamente são excelentes oportunidades de expressão e revelação.

Há que as agarrar e saber aproveitá-las. O que é uma oportunidade? É um ponto de onde a narração pode partir, ou, se já começou, de onde pode seguir por um caminho, em vez de outro. É uma possiblidade que nos é oferecida pelo próprio desenvolvimento da narração. Podemos aceitá-la, ou recusá-la e seguir em frente.

Pois é, escrever é um pouco como deixar-se levar pela corrente de um rio; connosco e com a aguá correm muitos outras coisas, temos de agarrar umas e afastar outras; o mais importante é não ficarmos rígidos, não julgarmos, não decidirmos de antemão, estarmos descontraídos e leves como uma criança que brinca...

1 Comments:

Blogger JNM said...

Sim, como uma criança que brinca...

8/16/2005 9:26 da tarde  

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