domingo, dezembro 28, 2008

The sun never stops setting

De olhos fechados, vejo um pôr do sol contínuo.
Não consigo decidir se me faz sentir bem ou não...

Inspira sentimentos e emoções que vão de um extremo da lágrima ao outro:
Feliz ou triste?
Confiante ou receoso?
Prazer ou sofrimento?
O que é mais forte?

Porque não, simplesmente, ignorá-los?
Talvez a vida seja mais pacífica assim...

terça-feira, dezembro 23, 2008

perfeito desconhecido

olhei para ele. sentado no sofá vermelho ao telefone. e aquela conversa da hora de almoço não parava de ecoar na minha cabeça:

"- se queres sexo não o podes procurar no teu amigo! pode até ser ter amigo há vinte anos . . desde esse momento acabou-se. se queres sexo vais ter com o marido da tua amiga ou procurar um perfeito desconhecido.

- um perfeito desconhecido?

- vais ao bar e escolhes o mais desajeitado, vais à livraria e escolhes o que tiver o ar mais inteligente. No shopping escolhes o mais aterefado e na paragem o mais tímido. Nao interessa. Na verdade, nunca muda a personagem, só muda o papel.

- um perfeito desconhecido?

- há-de sê-lo sempre para ti. nâo penses que é possível conhecer as pessoas. trocas números de telefones, de alianças, partilhas filhos e mesmo assim nunca hás de o conhecer. as pessoas não são para as conhecermos. são para as Vivermos . Por isso escolhe o papel que queres para aquela noite e leva-o contigo. leva-o sempre contigo, não te deixes ir com ele . depois o teu corpo acaba por se habituar ao cheiro da cama e os teus ouvidos ao som da porta a fechar e perdes-te no meio de tudo isso . não são precisos nomes nem dedicatórias . nao precisas fingir nem fugir. és quem desejares ser e no fim, serves café e pedes que não faça barulho quando sair. simples. 

- simples. "

quarta-feira, dezembro 10, 2008

debaixo daquela cruz

e no meio de toda aquela gente estava sozinha . nao reconhecia em nenhum daqueles rostos a ingénua alegria que a aquecera nos tempos idos em que lhe bastavam aqueles olhos sobre os seus . o frio penetrante fazia-a secretamente desejar ser levada dali para longe, para os sitios que as pessoas falam e as pessoas conhecem e dizem ser perfeitos.

nao.

na verdade, ela nao desejava nenhum sitio perfeito. nem sequer ser levada dali para longe. queria apenas que as vozes da rua lhe dizessem que afinal, nao fazia mal, e tudo iria encaixar. nao acreditava em nada . nem sequer no deus . mas algo a puxou para se sentar nos bancos castanhos, corridos, imoveis debaixo daquela cruz . se tanta gente ali encontrava a sua paz, entao talvez sobrasse alguma para ela propria em si ergeuer .

estranhamente , o frio de lá de fora levou-a para o sitio menos perfeito que poderia imaginar . e, no entanto, aqueceu-lhe a alma . e nesse preciso momento escondeu a cara de vergonha por sentir que estava a viver uma paz que não era a sua (talvez a tivesse roubado ao rapaz do lado) .

re-aquecida . re-encontrada .  saltou para dentro daquela multidão vazia e sentiu-se orgulhosamente egoista da sua indiscreta solidão .