sábado, abril 19, 2008

O uivar dos lobos e o ladrar dos cães. O puho cerrado até doer. O sangue bate-se nas veias como uma ave. Fé, esparança e amor...
Levantam-se milhares de braços no ar, a nossa bandeira vai bem alto. O céu azul e o circulo do sol, tudo parece no seu sítio mas algo não está bem.
Por cima de nós no céu, arde uma estrela, mais ninguém nos pode ajudar, na noite escura, se não for ela.
A noite chegou e com ela a trovoada, a chuva triste e o vento malandro. Mãos nos bolços, olhar tombado e a lingua atrás dos dentes. Consome-me por vezes a saudade, minha fiel companheira.
Fala, passeia, canta e daça, eu estou contigo enquanto a estrela arde no céu por cima de nós, mais ninguem nos pode ajudar na noite escura...

sexta-feira, abril 18, 2008

tentei

tentei...
tentei ficar
tentei continuar
não sei se vou conseguir
não sei

tentei...
tentei não chorar
tentei não rebentar
não sei se vou conseguir
não sei

tentei...
tentei mais uma vez
tentei mudar
não sei se vou conseguir
não sei

tentei...
tentei ser eu
tentei falar
não sei se vai resultar
não sei...

sábado, abril 12, 2008

Quando é que devo ser livre, quando é que devo parecer que sou, e quando estou entre estes estarei em perfeita harmonia?

Moscovo
02.04.06 Domingo

Já passaram dois dias e agora é que afinal…
Não entendo nada do que se passa à minha volta, mas no entanto, esta tudo tão correcto tão certo.
Nada do que antes me afligia, me aflige agora.
De tanto que tenho escrito, parece-me tão piroso: nevoeiros, nuvens, céu, sol, chuva, sombras, estradas. Imagens tão irracionais. Tudo isso não é o meu essencial.

Agora vejo carros sujos, vejo neve suja, e tudo isso é tão próximo à minha alma. Prédios ultrapassados pelos anos, abandonados. Uma vida que tem força apenas para a estrutura que a sustenta e em que não sobram forças para as aparências.
Esta cidade onde a vida não para, onde parece já não haver espaço para a beleza e em que tudo o que é belo está tão gasto. O Inverno leva tudo. A primavera traz para o exterior toda a sujidade do Inverno e leva-o também. A cidade sem ter morrido vai renascer. Mas todo este lixo é tão familiar, como posso amar quem não o ama.
As casas velhas e abandonadas dos tratos humanos, paredes sem tinta, papel de parede arrancado, descolado, banheiras enferrujadas, manchas de humidade nos tectos. Tanta tristeza, que me é tão confortável.
Esta cozinha onde se está, onde se convive. Não há quem compreenda a paz que sinto nesta altura, no meio de tanto abandono. Tanta paz, é tudo isto que me completa de uma maneira incrível. Era o que me faltava. Nunca me senti tão presente sem saber sequer o motivo da minha presença, sem conseguir ver o objectivo.
Não tenho sido eu mas também nunca desapareci. E também não é sobre isso que quero falar. Só sei que já há muito tempo que não me sinto como já me senti.
Quando voltar, sei que estarei diferente. Acredito, sinto ouvir essas palavras e há de acontecer, mesmo sem que eu repare nisso, ou já estou. Nunca vou voltar a ser o que era, jamais o quereria. Eu só quero viajar para a frente, e mesmo que não quisesse assim seria. Tudo ainda agora começou.

Não me esqueço de nada, lembro-me de tudo e o que não recordo agora, mais tarde me vai surgir. Há tanto que não sei, que não consigo entender mas quero. Quero tanto, que esta vida perece não chegar, mas não há nada melhor do que as alturas em que o nosso único dever é deixar o tempo andar.

Tempo

Ao som do relógio
Ao fundo da sala
Giram as coisas da vida
Fora das suas gavetas
Embaraçam as piruetas.
O tempo não chega pra elas

Lá fora ao som dos comboios
já não se marcam as horas,
Cá dentro o tempo não chega
Lá fora o tempo não para
Há que agir sem demoras
Os frutos não crescem
se parares a rega

quarta-feira, abril 09, 2008

por veses

Por vezes gostamos
De saborear os momentos
E os pensamentos
Por vezes sonhamos
Com cores e ventos
No centro da vila,
Tão cheia de vida
Que gira e salta
No meio da malta.
Num desconcerto
Em plena harmonia
E como magia
Surgimos do escuro
E observamos...

Será o futuro?
Será o presente?
Tudo se esvai de repente
No subconsciente...
A mente esguia
já gira e salta
No meio da malta
Depois abandona
E anda à solta,
Na ida e volta
Por montes e vales
Por ventos e cores.

Por vezes a lua,
Por vezes a tua.
Constroem o muro
Ou se calhar o futuro
que ainda não vemos
Ou não entendemos
Mas procuramos
No cimo do monte
Nas fitas de vento
Nas sombras dos vales
É quase transparente
É inconsciente
Está sempre à frente.

Será que sentimos
Estendendo a mão
Eu sei que não sei
se entendo ou não
O manto desliza
A cor transparece
E desaparece
Transforma a miragem
A cada instante
É algo incontstamte
Fruto da mente distante
Parada num frame
Da mensagem...

Mantemos a porta fechada
Embelezando a fachada
Cortinas cerradas
Portadas pintadas
No quarto do fundo
Trancamos o mundo
Ficamos na margem
Abrindo as pestanas
Ainda acordadas
ouvimos as badaladas
O tempo não para
Deslizamos no manto
De luz cintilante

Continuamos
Não desistimos
Remamos, fluimos
Saltamos, voamos
Sem nunca esquecer
De regar os rebentes
E longe do fundo
No centro do mundo
Abrimos a porta
De mente aberta
Abrimos os olhos
Vamos à descoberta...

terça-feira, abril 08, 2008

por vezes

Por vezes choramos!
Estaremos tristes?
Estaremos cansados?
Ou algo de mais?
um céu nebulado.
Olhamos apenas,
Nem sei se corremos,
Ou estamos parados.
Apenas cansados,
Apenas cansados.

De dar o melhor, ou de ser
Abrindo os olhos pra ver
Enchendo o peito ar
Erguendo o olhar.
Estaremos mudados?
Estaremos unidos?
Apenas cansados,
No entanto, ficamos calados
Ficamos calados
Talvéz porque vemos
Ou porque sabemos

Estaremos seguros?
Estaremos atentos?
Talvéz amanhã!
Talvéz amanhã...
Seguiremos caminho,
Por enquanto cantamos
Dançamos brincamos
Nos seus aposentos,
Sem planos futuros
Por enquanto esfolamos
As mãos calejadas
Abrimos os olhos

Por enquanto olhamos
Pensamos que vemos
Mas estamos cansados,
Apenas cansados
Abrimos os olhos,
Pegamos nos remos
De mãos calejadas
Remamos, remamos...
Subimos, olhamos
E vemos cansaço
Não vemos descanço,
Porque estamos cansados
Apenas cansados,
Mas nunca paramos...

Não vamos ao fundo
Não escolhemos o fundo
Há algo de mais neste mundo
Há algo melhor que o fundo
Não fiquem parados
Não fiquem no fundo,
Abram os olhos
Abram os olhos p'ra ver
Explorem o mundo
Não fiquem parados,
Não dancem no fundo.

Prefiro as mãos calejadas
Joelhos esfolados
Às futeis rizadas
A vóz abafada, cansada
À palhaçada
A vida disperta
À desvairada
Descalça na estrada
De olhos abertos
De olhos abertos
Por vezes chorando
Por vezes cansados
Por vezes...