As entranhas de uma baleia burocrática

Como poderei eu explicar isto?
Caminhando em direcção às aparentes águas passivas, digamos que fui engolida pela baleia das ideias pré-concebidas. Deixei-me levar por marés de assuntos inacabados, por congestões de mau funcionamento e organização.
Estava perdida como tantos outros pequenos peixes asfixiados com insuportáveis problemas por resolver.
No meio do confuso Oceano Burocrático, eramos balançados como uma bola de ping-pong de um lado para o outro, sem destino próprio. Falta de competência e aptidão era o que marcava fundamentalmente esta complexidade de ondas furtivas de serviços administrativos. Tartarugas preguiçosas, ao qual se intitulavam descaradamente como funcionários activos, deixavam-nos desesperados à espera como tubarões famintos prontos para o primeiro sinal de ataque. Filas e filas de alforrecas venenosas, punham-se a desparatar por qualquer tipo de conversa que dê-se início a uma discussão, para mais tarde virem a descobrir que tinham uma infinitude de tempo para o fazer de uma forma bem mais calma.
Farta deste sistema de departamentos e serviços públicos carregados de mau atendimento e humor, decidi tomar uma atitude drástica.
Apesar daquela ser a realidade de muitos casos de descontraídas baleias gordas e gigantescas que fazem o seu percurso diário extremamente lento, aprendi que esta ilusão era de todo exagerada. Senti que tudo pode ser revolucionável e que com um pouco de luta, motivação e empenho atingimos os nossos fins.
Foi, então, que uma extraordinária ideia me surgiu.
Mergulhando no meio de tantas fezes de carimbos rejeitados, de processos adiados e de outros tantos com falta de documentação, decidi respirar ar puro e vir à superfície.
Para continuar na onda do bom senso e sensatez, aliviei a burocracia e dirigi-me à Loja do Chinês. Fiquei estupefacta, impressionada! Mas que loja! Que eficácia e acessibilidade! Estava, de facto, deslumbrada com a variedade de serviços prestáveis e a facilidade de os adquirir. Tinha de tudo... podiamos ter de tudo...
Através de um meio personalizado, consegui compreender todas as secções e o seu funcionamento. Era prática e fornecia todo o tipo de informações com uma enorme celeridade.
Dando uma volta por todos os corredores e vendo todo os produtos de consumo, encontrei finalmente o que queria, com as devidas indicações, e fiquei bastante satisfeita.
Direccionei-me para esta com uma fúria de prazer.
Peguei-lhe e sentia os meus dedos suarem de alegria e excitação.
Determinada a continuar com esta emoção durante mais uns momentos, sentei-me e pus-me a observar e a apreciar o contentamento na cara dos demais que não levavam mais de, sensivelmente, quinze minutinhos até esboçar um orgulhoso e agradecido sorriso.
Dado o meu dia por terminado, fiz uma vénia a tão explendido espaço e retirei-me em pulgas com o pequeno e quase insignificante objecto, de supostos meses, nas mãos, dizendo para comigo em silêncio uma única palavra: Obrigada!!

O ódio, a violência, uma vez desencadeados, avançam, vão-se propagando subterraneamente, longe dos olhares, como os rizomas de certas plantas daninhas. Convencemo-nos de que as arrancámos a todas mas, de repente, vemo-las despontar, fortes e vigorosas, do outro lado do campo. Para melhorar as minas e os engenhos explosivos, inventaram-se tecnologias sofisticadas, há robots telecomandados, e há homens e mulheres que arriscam diariamente a vida por causa disso.



Na profunda fragilidade familiar que caracteriza esta nossa época histórica, a madrinha ou o padrinho podem vir a ser figuras muito importantes, figuras capazes de oferecer solidez, estabilidade e esperança nos momentos em que todas as coisas e todos os valores se confundem. Em vez disso, olha-se em redor e repara-se que, sob o ponto de vista espiritual, a maioria das crianças cresce entregue a si própria.
A imagem é esta. Mas a imagem será também a realidade?




