domingo, outubro 02, 2005

Esperança

Há que cultivar a esperança. Que sentido há em fecharmos todos os caminhos, em entrincheirarmo-nos preventivamente numa cave onde só a nossa sobrevivência está garantida?
Detesto o catastrofismo, que se está a propagar cada vez mais, detesto as previsões apocalípticas, acho que o cinismo é um meio bastante modesto para disfarçarmos a nossa insuficiência, a nossa incapacidade de ver nem que seja um pouco mais longe.

Existe também quem, para fazer frente á perturbação, vai a correr enfiar-se debaixo das asas quentes das seitas e dos grupos. Essas seitas e esses grupos que, acima de qualquer outra coisa, impedem de pensar, que constroem um futuro, infelizmente, à sua imagem e semelhança, não permitindo a livre tomada de decisão e chamando-lhes quase secretamente ignorantes, e o garantem, chave na mão, apenas aos seus adeptos.

Acredito que entre esses dois caminhos existe outro, menos vistoso talvez e seguramente menos cómodo, menos tranquilizante. Esse caminho é o dos que andam à procura de esperança, daqueles que sabem pôr de parte todos os lugares-comuns acerca do que o homem deve ser e acerca do seu destino e que, a partir de sinais muito débeis, sabem imaginar um ser diferente. Um ser humano que ainda não nasceu, mas que ninguém diz que não vai nascer. Não se procura a esperança por medo ou para se ficar com a consciência tranquila, mas porque se acredita no potencial evolutivo que está oculto no homem.

Até agora, as grandes mudanças partiram sempre de uma utopia. Pensou-se, por exemplo, que modificando um sistema de produção mudaria o homem, e assim, num curtíssimo espaço de tempo, as utopias transformaram-se em infernos e deixaram atrás de si longos rastos de dor e de morte. As utopias sociais foram a trágica desilusão deste século. O erro fundamental foi acreditar que, modificando as estruturas da sociedade, se modificaria naturalmente o homem. Mas o que deve acontecer é precisamente o contrário: só o homem consciente é que pode fazer qualquer coisa para que tudo mude.
Procurar a esperança e fazê-la crescer, cultivá-la em nós mesmos e em quem nos rodeia, não nos rendermos ao que a sociedade de hoje nos impõe, à sua vulgaridade, à sua violência, mas ver no meio de tudo isso alguns sinais de mudança, protegê-los e alimentá-los como, na antiga Roma, as Vestais protegiam o fogo. Sem sono, nem distracções.

1 Comments:

Blogger 100asas said...

Gostei do post.

Pois eu não acho que o caminho da esperança sejo menos tranquilizante.
Para mim, a esperança, é a única coisa que me faz ainda levantar todos os dias! Eu ainda espero um dia poder ver acordar de manhã o meu mundo perfeito...

Utopia? Talvez...

10/02/2005 10:41 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home