sábado, outubro 15, 2005

O novo valor de se ser criança

Há uns tempos atrás, estava a falar com uma amiga minha, de 26 anos, sobre o facto de se ser madrinha. Ela já o é há dois anos. Mas não falavamos da emoção, e sim da responsabilidade de se ser madrinha.
A minha amiga dizia que costumamos esquecer-nos da importância desse papel, consideramo-lo um facto mundano e, mal saímos da igreja, até nos podemos esquecer do rosto da criança. Pelo contrário, a participação no sacramento do baptismo cria- ou deveria criar - um "parentesco" indissolúvel. Não que eu seja a favor dessas crenças e desses rituais que consta na tradição de muitos, até porque nem católica sou, mas tento conmpreender ambos os lados e penso que quando se assume um compromisso, esse mesmo compromisso - o compromisso de transpormos juntos o percurso do Espírito - não pode conhecer, não deve conhecer, cansaços, incompatibilidades, divórcios. Na profunda fragilidade familiar que caracteriza esta nossa época histórica, a madrinha ou o padrinho podem vir a ser figuras muito importantes, figuras capazes de oferecer solidez, estabilidade e esperança nos momentos em que todas as coisas e todos os valores se confundem. Em vez disso, olha-se em redor e repara-se que, sob o ponto de vista espiritual, a maioria das crianças cresce entregue a si própria.

Para as tornar donas do seu tempo, ensina-se-lhes a usar o computador, e depois a língua inglesa, "porque se não sabes inglês não tens futuro", e depois a jogar ténis e fazer dança clássica ou natação: em suma, preenchem-se os seus dias com uma infinidade de coisas para se pensar que essas mesmas coisas irão fazer delas seres humanos completos, capazes de enfrentar a existência como vencedores. Uma série de actividades práticas e nada que tenha a ver com a vida interior. Faz-se a comunhão, é certo, mas faz-se, na maior parte dos casos, porque "todos a fazem": se a família não é crente e não vive os valores cristãos, é muito difícil que possa "participar" nessa fase tão importante.

Assim se criam crianças hiper-informadas: aos sete, oito anos, já sabem tudo, sabem utilizar as palavras adequadas e falam com a sabedoria um pouco pedante de adultos em ponto pequeno, mexem no computador e nos jogos de vídeo com a mesma naturalidade com que nós ou os nossos pais, em crianças, jogávamos ao berlinde ou brincávamos com barbies; vêem sem pestanejar filmes de terror que me deixariam com insónias durante umas quantas noites. Não há nada que as surpreenda, as aterrorize e as encante, estão sentadas no meio do caos dos nossos dias com a imperturbabilidade indiferente de pequenos bonzos. A imagem é esta. Mas a imagem será também a realidade?
Ou será um ecrã colocado diante dos nossos olhos para nos tranquilizar, para não nos fazer sentir culpados?
Sempre que tive a possibilidade de raspar esse cómodo verniz, descobri realidades muito diferentes. Não imperturbabilidade, mas uma profunda ansiedade. E, por detrás da ansiedade, tédio, depressão, a ideia de que a vida não tem qualquer objectivo. E também uma grande fragiligade e uma grande imaturidade emocional.

Quem somos? Por que vivemos? O que há por detrás da aparência? Qual é o sentido do mal? Qual é o sentido da morte? O que é a salvação? De onde vem? Perguntas a que nenhum computador, nenhum jogo de vídeo, nenhum curso de línguas poderá alguma vez dar resposta.

2 Comments:

Blogger ManiacaDosPorques said...

Não sendo católica, tento respeitar essa mesma religião e outras demais!

Tal como eu disse tem que se ter tamanha compreensão para considerar tal ritual importante porque, apesar de ser banal para alguns, é fundamental para outros ( e, no entanto, também já foi outrora importante para mim, antes de saber realmente o seu significado)!

Quando debato um tema tento rever questões extremamente problemáticas da sociedade, como por exemplo a religião.

E o meu objectivo não era convencer ninguém a aderir a esse tipo de tradições e sim fazer lhes ver o lado de quem as pratica!
Até porque o fundamental da minha história era destacar a empatia, a indifenreça e a falta de reacção que as crianças possuem nos nossos tempos modernos!

Beijinhos

10/16/2005 1:03 da tarde  
Blogger Desconhecida said...

Eu também não sou católica, mas sei que o objectivo de se ser madrinha ou padrinho é um: Assegurar uma educação católica à criança...o que nem todos sabem.

10/16/2005 4:00 da tarde  

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