segunda-feira, março 12, 2007

Eu não me vou perder...




Eu não me vou perder
Dizia eu seguindo o escuro
Pois eu não via
Que não conseguia ver
Achava o pântano seguro

Deixem-me andar,
Dêem-me espaço
Dizia eu, atando
Os meus próprios pés
Diziam-me que faço o laço
Que me vai enforcar de vez.

Dizia eu
Afastem-se de mim
Eu quero paz de vós
Não quero mais viver assim
A minha música
Não é a que o meu pai compôs

Dizia eu
Achando-me correcta
E ignorando tudo o que é amar
Ia torcendo a minha recta,
Sem ver
Que certamente me iria afogar

E quando o chão cedeu,
E eu caí
Pareceu-me que voava
Apenas lá no fundo
Quando dei por mim
Sangrava.
Não me importei
Estava sozinha e assim fiquei

Mirei o céu
Olhei a terra
Fiquei deitada sem notar
Que o pântano me estava a sugar
E era comigo que eu estava em guerra

E foi então que vi
O meu falcão
Sobrevoar o céu
Tentei voar,
Não consegui
Estiquei as mãos
Tentei gritar.

Mas ele não ouvia
O meu choro.
Nessa altura entendi
Que deveria ter ouvido o coro
Que ignorei durante anos
Sem vergonha



Voltei-me para trás e vi
As lágrimas nos olhos
Daqueles que me queriam paz
E queriam que eu tivesse sonhos
E o barco
Pronto para me levar.

E desta vez
A consciência me fez chorar
Surgiu a humildade
De pedir ajuda
Estendam-me as mãos
Quero embarcar
Todo o meu corpo aqui
É uma dor aguda.

Eles puxaram-me
P’ra cima sem demora
Tiraram-me a roupa suja
E deitaram fora.
Puseram-me em pé
E eu cambaleando
Dei um passo no convés.

E foi assim
Que começou esta viagem.
Não me perdi,
Pois nunca me perderam
Há mar aqui,
As tempestades esperam
E eu navego com coragem!