quarta-feira, dezembro 10, 2008

debaixo daquela cruz

e no meio de toda aquela gente estava sozinha . nao reconhecia em nenhum daqueles rostos a ingénua alegria que a aquecera nos tempos idos em que lhe bastavam aqueles olhos sobre os seus . o frio penetrante fazia-a secretamente desejar ser levada dali para longe, para os sitios que as pessoas falam e as pessoas conhecem e dizem ser perfeitos.

nao.

na verdade, ela nao desejava nenhum sitio perfeito. nem sequer ser levada dali para longe. queria apenas que as vozes da rua lhe dizessem que afinal, nao fazia mal, e tudo iria encaixar. nao acreditava em nada . nem sequer no deus . mas algo a puxou para se sentar nos bancos castanhos, corridos, imoveis debaixo daquela cruz . se tanta gente ali encontrava a sua paz, entao talvez sobrasse alguma para ela propria em si ergeuer .

estranhamente , o frio de lá de fora levou-a para o sitio menos perfeito que poderia imaginar . e, no entanto, aqueceu-lhe a alma . e nesse preciso momento escondeu a cara de vergonha por sentir que estava a viver uma paz que não era a sua (talvez a tivesse roubado ao rapaz do lado) .

re-aquecida . re-encontrada .  saltou para dentro daquela multidão vazia e sentiu-se orgulhosamente egoista da sua indiscreta solidão .