Opções éticas e estilos de vida
Na minha paixão naturalista, há poucas coisas que me fascinam tanto como a migração. Já li alguns livros sobre o assunto, mas é um fenómeno que continua a surpreender-me e a intrigar-me. As poupas, por exemplo, aparecem sempre por volta de 22 de Março; por seu lado, as andorinhas-das-chaminés, quando ainda aparecem, fazem-no por volta de princípios de Abril. Em toda a Itália e nos países europeus que praticam a agricultura intensiva e abusam de adubos e pesticidas, a sua presença reduziu-se de uma forma tão dramática que as mais importantes associações ambientais se viram na necessidade de promover uma campanha maciça de informação e protecção. Desapareceram os insectos com que se alimentavam, desapareceram os beirais dos telhados onde faziam os ninhos, e é até difícil arranjarem lama para os construir.Os cínicos dizem: “Se as andorinhas deixarem de existir, o que é que muda? As espécies estão constantemente a desaparecer, desde que o mundo é mundo!” Ou então: “Há problemas muito mais graves a resolver do que o problema das andorinhas!” De facto, o problema das andorinhas não é mais do que a ponta do icebergue: por baixo, há uma realidade muito extensa e ameaçadora que se chama “exploração irracional e louca do equilíbrio da Terra”. E isso tem a ver, naturalmente, com coisas muito maiores do que simples andorinhas, tem a ver com a economia e a política, o abuso arrogante e o desperdício dos recursos dos países ricos e a miséria cada vez maior dos países pobres.
Creio que, neste momento, e sobretudo para as pessoas que acreditam em determinados valores, um dos problemas mais urgentes é o da escolha dos estilos de vida. Todos os dias podemos contribuir com os nossos comportamentos, mesmo os mais simples, para a degradação da Terra ou para o início do processo oposto. O criado foi-nos confiado e nós fomos confiados ao criado, não somos donos, como durante muito tempo se quis acreditar, mas hóspedes, e como hóspedes devemos obedecer às leis do respeito e da convivência, às leis da protecção e do amor. E a característica do amor é justamente não distinguir e não dividir, não estabelecer hierarquias quando se oferece.“Não podes tocar numa flor sem perturbar uma estrela”, escrever o filósofo Gregory Bateson. Nunca foi tão importante como agora decidir se se é a favor da vida ou contra a vida, se se está com a loucura destrutiva do egoísmo humano ou com “a nossa irmã e mãe terra que nos sustenta e governa”, como escreveu S. Francisco.
Pensem numa vida sem tudo aquilo que vos faz feliz…
