A aberração do "Bonismo"
Tenho ouvido esta palavra ultimamente com alguma frequência e sempre que a oiço fico com a mesma cara inicial de estupefacção.
Realmente a palavra em questão é sim, de facto, "bonismo". E afinal o que é o "bonismo"?
Para ser sincera, não sei, não faço a mais pequena ideia.
Mas pensemos desta maneira...
Num dia já longínquo, uma alma muito cândida fez as seguintes equações: coração = mel; mel = bondade; bondade = sentimento inferior, donde "bonismo", ou seja, "simulação de intenções benéficas para iludir a credulidade popular". E, feliz com a genialidade da sua intuição, fui logo gritá-la aos quatro ventos.
Foi a partir desse instante que o espantalho do "bonismo" passou a andar nas páginas dos jornais, nos lábios dos locutores do telejornal, nas reportagens sociais, nas classificações dos livros.
Pensei então através de uma história verídica que li sobre o fracasso de uma vida, sobre a superficialidade dos sentimentos convencionais, sobre a dificuldade de se contactar com a verdade mais profunda da vida, a verdade de Espírito. Retrata a história de uma mulher confusa, egoísta, que só foi capaz de ceder à intuição do amor nos últimos dias, já à beira da morte. Há nela, desde o início, primeiro insidiosa e depois cada vez mais intensa, uma tensão, uma inquietação espiritual que culmina no encontro com o jesuíta. Esta mulher é, de facto, perspicaz, cruel, de uma crueldade que roça muitas vezes pelo cinismo, uma mulher capaz de dizer à neta que a mãe, já falecida, "não era inteligente".
Uma pessoa "bonista" e amorosa seria capaz de dizer semelhante coisa? Custa-me a acreditar. Onde está, portanto, a tão difamada avozinha de puxo na cabeça, que passa a vida a tirar biscoitos do forno e a dizer tolices à netinha que está longe?
Por mais que me esforce, não consigo vê-la.
No livro existe a seguinte frase: "O coração é como a terra, meio iluminado pelo Sol e meio à sombra". Nunca descrevi o coração como um favo de mel, mas como o lugar da complexidade e da ambivalência humana, um lugar onde o mal triunfa muitas vezes sobre o bem. O mal faz parte da nossa natureza mais profunda; o mal é fácil, banal, espontâneo; o mal não requer esforço nem oposição. O mal é um atalho; o bem, pelo contrário, é um percurso. Um percurso solitário, escabroso, difícil, muitas vezes impopular; um percurso cheio de quedas.
Não há pessoas boas, o que há é pessoas conscientes, que aceitam seguir por esse caminho; pessoas que recusam a superficialidade do conformismo e as ciladas do preconceito, aquele preconceito que tantas vezes cresce vigoroso nos espíritos, ilusoriamente livres, dos chamados "anticonformistas".
O bem é uma coisa extremamente séria, porque o mal é uma coisa extremamente séria. Ignorar isto é condenar-se a viver na camada mais epidérmica e fátua da existência. Não se pode ser bom por moda jornalística, conveniência ou mera preguiça. A bondade é um caminho extremamente severo e, porque é severa, tem necessidade de ser discreta. E de ser forte, porque a bondade, tal como o amor, exige força, a grande, a imensa força do Espírito.
Realmente a palavra em questão é sim, de facto, "bonismo". E afinal o que é o "bonismo"?
Para ser sincera, não sei, não faço a mais pequena ideia.
Mas pensemos desta maneira...
Num dia já longínquo, uma alma muito cândida fez as seguintes equações: coração = mel; mel = bondade; bondade = sentimento inferior, donde "bonismo", ou seja, "simulação de intenções benéficas para iludir a credulidade popular". E, feliz com a genialidade da sua intuição, fui logo gritá-la aos quatro ventos.
Foi a partir desse instante que o espantalho do "bonismo" passou a andar nas páginas dos jornais, nos lábios dos locutores do telejornal, nas reportagens sociais, nas classificações dos livros.
Pensei então através de uma história verídica que li sobre o fracasso de uma vida, sobre a superficialidade dos sentimentos convencionais, sobre a dificuldade de se contactar com a verdade mais profunda da vida, a verdade de Espírito. Retrata a história de uma mulher confusa, egoísta, que só foi capaz de ceder à intuição do amor nos últimos dias, já à beira da morte. Há nela, desde o início, primeiro insidiosa e depois cada vez mais intensa, uma tensão, uma inquietação espiritual que culmina no encontro com o jesuíta. Esta mulher é, de facto, perspicaz, cruel, de uma crueldade que roça muitas vezes pelo cinismo, uma mulher capaz de dizer à neta que a mãe, já falecida, "não era inteligente".
Uma pessoa "bonista" e amorosa seria capaz de dizer semelhante coisa? Custa-me a acreditar. Onde está, portanto, a tão difamada avozinha de puxo na cabeça, que passa a vida a tirar biscoitos do forno e a dizer tolices à netinha que está longe?
Por mais que me esforce, não consigo vê-la.
No livro existe a seguinte frase: "O coração é como a terra, meio iluminado pelo Sol e meio à sombra". Nunca descrevi o coração como um favo de mel, mas como o lugar da complexidade e da ambivalência humana, um lugar onde o mal triunfa muitas vezes sobre o bem. O mal faz parte da nossa natureza mais profunda; o mal é fácil, banal, espontâneo; o mal não requer esforço nem oposição. O mal é um atalho; o bem, pelo contrário, é um percurso. Um percurso solitário, escabroso, difícil, muitas vezes impopular; um percurso cheio de quedas.
Não há pessoas boas, o que há é pessoas conscientes, que aceitam seguir por esse caminho; pessoas que recusam a superficialidade do conformismo e as ciladas do preconceito, aquele preconceito que tantas vezes cresce vigoroso nos espíritos, ilusoriamente livres, dos chamados "anticonformistas".
O bem é uma coisa extremamente séria, porque o mal é uma coisa extremamente séria. Ignorar isto é condenar-se a viver na camada mais epidérmica e fátua da existência. Não se pode ser bom por moda jornalística, conveniência ou mera preguiça. A bondade é um caminho extremamente severo e, porque é severa, tem necessidade de ser discreta. E de ser forte, porque a bondade, tal como o amor, exige força, a grande, a imensa força do Espírito.
3 Comments:
A exigência do Bem é demasiada. Algo contaminado de mal já não é bem. É mal.
E ser bom não custa. Mas fazer o bem...?
Um beijo.
Pois é, fazer o bem nem sempre é facil, de facto. Não sei se somos todos maus, mas com certeza, todos temos, pelo menos a intenção, mesmo que não realizada, de uma ou outra vez na vida fazer uma maldadezinha. Quem nunca desejou uma maldadezinha a alguém? Quem nunca teve vontade de ser mau? Eu já, mas nem sempre consigo, mas juro que às vezes bem que queria ser má, muito má.
Sabes que cada vez que aqui venho fico deliciada ... já to disse inúmeras vezes mas nunca é demais... a facilidade com que falas de assuntos tão sérios como este deixa transparecer uma imensa capacidade de análise aliada a uma sensibilidade invulgar.
De facto, falar de bondade, e ainda mais nessa perspectiva e da forma que a abordas dá vontade de dizer-te ...não é para quem quer, é só para quem pode.
Só podes ser, de facto, uma BOA pessoa :))))
Beijoquinha encaracolada em carinho e admiração :))))
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