quarta-feira, dezembro 07, 2005

A Fitness (A estupidez humana maquinal)

Mais cedo ou mais tarde, em qualquer tipo de conversa, renasce sempre o interesse pela discussão do físico e acabamos inevitavelmente por falar da relação que há entre o corpo e o espírito e do pouco caso que se faz dessa relação.

“É como se fossem dois pratos da mesma balança. Num dos pratos, está o desprezo do corpo, no outro, a exaltação narcisista da fitness. Qual das duas situações é mais prejudicial?”
Perante esta pergunta numa das minhas aulas de Integração, houve opiniões muito diferentes: eu achava que a mais prejudicial era a segunda. De facto, o desprezo pelo corpo pode sempre ser remediado, mas já é mais difícil escapar ao condicionamento de um caminho já iniciado.

O que é a fitness? Só saberei defini-la como um conjunto de dietas, conselhos e actividades físicas programadas que se destinam a manter o corpo o mais tempo possível jovem e desejável. Trata-se de uma forma de cultura centrada exclusivamente na saúde, uma cultura uma cultura que veio da América e que em poucos anos invadiu as páginas das nossas revistas femininas e a programação dos nossos ginásios, criando, entre outras coisas, uma colossal rede de negócios. Dito assim, até pode parecer uma coisa inocente, ou melhor, benéfica.

Na realidade, se se parar um pouco para reflectir, para observar, vê-se que não é assim. O que mais impressiona nos adeptos da fitness é a obsessão. Obsessão em seguir um programa ou um modela: todos os esforços, todas as energias devem ser encaminhados para transformar o nosso miserável, infeliz e deselegante corpo num idealizado e inexistente “corpo perfeito”. A coxa deve ser assim, o fundo das costas deve ser assado, a barriga, lisa, as faces, firmes: e quem não o consegue é um falhado.
O que nos cheira a esturro é justamente a uniformização dos corpos; porque a uniformização – ou seja, a vontade de tornar tudo igual – anula a diversidade, e a partir do momento em que não se aceita a diversidade mete-se por uma encosta muito perigosa. Com efeito, não aceitar a diversidade é não aceitar as próprias bases da convivência entre os homens, as bases da humanidade. Por outro lado, a obsessão da sedução e da juventude a todo o custo também cheiram a esturro: em vez de se ir acompanhando com afecto a passagem dos anos, faz-se tudo para remar contra eles, para apagar o mais pequeno sinal da passagem do tempo.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bem verdade é que o culto do corpo perfeito, a procura utópica pela perfeição-modelo divulgada pelos diversos meios de comunicação é uma tremenda patetice. Há quem se dedique exclusivamente a cultivar uma aparência que se assemelhe à dos modelos de capas de revista, seja através do exercício físico e da alimentação com base numa dieta equilibrada (note-se que estes métodos até são de carácter bastante saudável) seja recorrendo a métodos mais violentos nada salutares, como dietas ridículas pelo extremismo, cirurgias plásticas, entre muitas outras “loucuras”.
Mas bem verdadeira é também esta realidade: a grande maioria das pessoas não se sente confortável com o seu corpo e, enquanto que uns enveredam por estes caminhos rumo à “perfeição”, há quem afirme convictamente que “o físico é o que menos importa”, que “o que importa é o que está cá dentro”, que, “mais importante que o aspecto exterior é o desempenho”. Há ainda quem tenha um ego demasiado inchado para se preocupar com estas ninharias. Mas a realidade é que quase ninguém se consegue abster do facto de que se fosse mais belo talvez as coisas fossem mais fáceis. Por mais duro que seja admitir, toda a gente sabe apreciar um belo corpo escultural, e seria hipocrisia afirmar que um corpo bonito é feio.
No entanto, é claro que, mais do que absurdo, é degradante previligiar-se uma aparência física idílica em detrimento de outros valores morais, culturais e espirituais. E acho que estamos de acordo neste ponto.
Mas eu cá não sou por extremismos, e é por isso que essa ideia dos dois pratos da balança, com duas coisas tão erradas confrontadas dessa forma me parece tudo menos equilibrada.
Se me fizessem a pergunta dessa maneira e se estivesse num dia mau provavelmente mandava-a às favas. Porque se a balança é a metáfora do equilíbrio, é óbvio que perante essa imagem eu diria que deviam estar os dois pratos ao mesmo nível, ora! É assim que se evitam fundamentalismos e se procura a harmonia mundial... e lá estou eu a enveredar pelos sonhos utópicos.
Beijinhos, Sara*

Joana

12/10/2005 12:38 da manhã  
Blogger Vespinha said...

Olá!
Não gosto nada de ginásios e daquelas pessoas saltitantes,dinâmicas e de sorriso pepsodente!

Prefiro gente pacata,sem ar de Yuppie...sim,porque os ginásios estão cheios deles.

Nada melhor que fazer o circuito do INATEL e depois dar umas braçadas.

Beijinho da Vespinha

12/10/2005 12:55 da manhã  
Blogger JNM said...

Deixa lá. Inevitavelmente tudo se irá parecer com a morte, mais cedo ou mais trade...

devemos cuidar da saúde e fazer exercício, não andar demasiado gordos ou demasiado magros.

Quanto à música manda-me o teu endereço de hotmail para Druantiagodess@gmail.com para eu te adicionar ao messenger e te explicar como se faz...

Aviso-te que não é uma coisa fácil...

Um beijo.

12/10/2005 3:45 da tarde  
Blogger Vespinha said...

Olá!
Passei para deixar um beijinho.

Vespinha

12/15/2005 11:58 da tarde  
Blogger ManiacaDosPorques said...

Queridos amigos que encontrei aqui na blogoespefra,
Queria vos agradecer toda o apoio que me têm dado ao comentarem sempre os meus textos e principalmente por fazerem-no com espírito crítico e insatisfeito!

Acho que mais importante que comentar a dizer que tão muito bonito ou não... é dizer aquilo que pensam se concordam ou discordam, porque afinal de contas o que eu digo também não é uma lei garantida e ppode ter vários tipos de perspectivas!

Obrigada, portanto, pela vossa paciência ao ler os meus enormíssimos textos e pela vossa sensibilidade, mais uma vez! ;)

Beijinhos muito grandes para todos os visitantes assiduos...e para todos os outros também! ;)*

12/16/2005 12:57 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home