Se...
Hoje morreu alguém muito querido, o pai de uma grande amiga minha. Em vez de deixar um poema sobre a morte, quero antes deixar algo sobre a vida! Que a percepção da realidade do morte nos faça deixar de ter medo da vida!
Se...
Se tu podes impor a calma, quando aqueles
Que estão ao pé de ti a perder, censurando
A tua teimosia nobre de a manter.
Se sabes aguardar sem ruga e sem cansaço.
Privar com Reis continuando simples,
E na calúnia não recorres à infâmia
Para com arma igual e em fúria responder.
- Mas não aparentar bondade em demasia
Nem presumir de sábio ou pretender
Manifestar excesso de ousadia, –
Se o sonho não fizer de ti um escravo
E a luz do pensamento não andar
Contigo no domínio do exagerado.
Se encaras o triunfo e a derrota
Serenamente, firme, e reforçado
Na coragem que é necessário ter
Para ver a verdade atraiçoada.
Caluniada, espezinhada, e ainda
Os nosso ideias por terra, – As erguê-los
De novo em mais profundos alicerces
E proclamar com alma essa Verdade!,
Se perdes tudo quanto amealhaste
E voltas ao principio sem um ai,
Um lamento, uma lágrima, e sorrindo
Te debruças sobre o coração
Unindo outras reservas à vontade
Que quer continuar, e prosseguindo
Chegar ao infinito da razão.
Se a multidão te ouvir entusiasmada
E a virtude ficar no seu lugar.
Se amigos e inimigos não conseguem
Ofender-te, e se quantos te procuram
Para estar com o teu esforço não contarem
Uns mais dos que os outros, – olha-os por igual!,
Se podes preencher esse minuto
Com sessenta segundos de existência
No caminho da vida percorrido
Embora essa existência seja dura
Á força das tormentas que a consomem,
Bendita a tua essência, a tua origem
- O Mundo será teu,
E tu serás um Homem!
Rudyard Kipling (1865-?)
Versão portuguesa de António Botto
Que estão ao pé de ti a perder, censurando
A tua teimosia nobre de a manter.
Se sabes aguardar sem ruga e sem cansaço.
Privar com Reis continuando simples,
E na calúnia não recorres à infâmia
Para com arma igual e em fúria responder.
- Mas não aparentar bondade em demasia
Nem presumir de sábio ou pretender
Manifestar excesso de ousadia, –
Se o sonho não fizer de ti um escravo
E a luz do pensamento não andar
Contigo no domínio do exagerado.
Se encaras o triunfo e a derrota
Serenamente, firme, e reforçado
Na coragem que é necessário ter
Para ver a verdade atraiçoada.
Caluniada, espezinhada, e ainda
Os nosso ideias por terra, – As erguê-los
De novo em mais profundos alicerces
E proclamar com alma essa Verdade!,
Se perdes tudo quanto amealhaste
E voltas ao principio sem um ai,
Um lamento, uma lágrima, e sorrindo
Te debruças sobre o coração
Unindo outras reservas à vontade
Que quer continuar, e prosseguindo
Chegar ao infinito da razão.
Se a multidão te ouvir entusiasmada
E a virtude ficar no seu lugar.
Se amigos e inimigos não conseguem
Ofender-te, e se quantos te procuram
Para estar com o teu esforço não contarem
Uns mais dos que os outros, – olha-os por igual!,
Se podes preencher esse minuto
Com sessenta segundos de existência
No caminho da vida percorrido
Embora essa existência seja dura
Á força das tormentas que a consomem,
Bendita a tua essência, a tua origem
- O Mundo será teu,
E tu serás um Homem!
Rudyard Kipling (1865-?)
Versão portuguesa de António Botto
Em memória de Vìtor Lopo (1940-2005)
4 Comments:
Não se pode dizer grande coisa nestas alturas, pois não.
Nestas alturas não se diz... Esta-se.
Nestas alturas as palavras não servem, pois pouco ou nada faz sentido...
Nestas alturas "está-se", porque é realmente a presença de alguém querida, é o sentimento de que no final não estamos mais sozinhos que nos dá um pouco de alento.
......!
Amiga, nestes momentos o melhor a fazer é apoiar através do afecto.
O carinho que sentimos ao nosso redor é,pelo menos, reconfortante...como tu dizes, deixamos de nos sentir sozinhos para, mesmos no sofrimento, nos sentirmos intensamente acompanhados.
Beijinhos do coração.
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