terça-feira, setembro 06, 2005

Sorte e Acaso II

No último texto (Sorte e Acaso) terminei com a ideia de, devido ao Princípio da Incerteza, não ser possível determinar com exactidão as propriedades de uma partícula ao nível quântico. Assim, não seria possível fazer previsões sobre o futuro comportamento de um sistema de partículas, já que o seu estado num determinado momento não é determinado. Contudo, é possível fazer um cálculo probabilístico, ou seja, eu não sei onde está a partícula, mas sei qual a probabilidade de estar em determinado local num determinado momento. Isto faz parecer que a natureza se comporta de uma forma aleatória, mas, de facto, permite-nos fazer previsões exactas. Eu posso não conseguir saber se uma partícula está num local ou noutro, mas consigo saber, de um conjunto de partículas, exactamente quantas estão num local e quantas estão no outro.
Um exemplo: tenho um vidro que reflecte 50% da luz que nele incide com determinado ângulo. Não consigo saber se um fotão em partícular vai ser reflectido ou não, mas sei que exactamente metade é reflectido. Por isso, parece que a natureza, apesar de funcionar de forma aparentemente aleatória ao nível das partículas elementares, é regulada por leis que permitem ter certezas sobre a evolução de um determinado sistema, ainda que essas leis sejam o resultado de cálculos probabilísticos. Este é, actualmente, o modelo aceite como base para aquilo que se chama "o Modelo Standard", que é a teoria que explica todos os fenómenos da natureza, à excepção da gravitação. Actualmente procura-se alargar o Modelo Standard também à gravidade, o que permitirá termos uma teoria que explique todos os fenómenos da natureza. É algo que já não está muito longe e que terá consequências dramáticas para a nossa concepção do Universo, para a filosofia e para as religiões.