sábado, setembro 10, 2005

A semana de férias


Voltei...
Estas férias foram extremamente enriquecedoras. Aprendi a valorizar novamente as coisas realmente importantes e encontrei sobretudo fonte de paz e inspiração.
Apesar de inicialmente desanimada devido a condições de limpeza e asseio que para mim são fundamentais, conseguimos finalmente acomodar-nos estabelecendo um meio de satisfação a todos. Em sintonia, revemos novamente os planos, os objectivos e o que nos fez á partida seguir em tamanha aventura.
Despertamos então para um caminho inexplorado em busca de algo que nos desse um certo equilíbrio, tentando involuntáriamente assemelhá-lo ao que obtemos diáriamente com as nossas vidas citadinas.
Vi que isso era impossível porque nem o meio nem as culturas eram as mesmas...habituamo-nos assim ao que tinhamos nas mãos e demo-nos muito bem.

Saiamos todos os dias para dar um passeio sempre diferente, sem rumo traçado e desfrutar do bom tempo, do ar agreste que nos enchia os pulmões e da natureza selvagem que nos envolvia. Cada um tinha o seu tempo, cada um dava o devido tempo aos outros respeitando cada passo dado em conjunto. Não nos atropelavamos com os pensamentos ou com as nossas fúrias de ir mais além...afinal não tinhamos pressa de chegar a lado nenhum. Tivemos momentos de silêncio, de euforia, de diversão, de descanço... até mesmo de cansaço... mas todos eles recheados com imensa descoberta e aprendizagem.
Aproveitei então o meu tempo para pôr alguns pensamentos em dia, para meditar... Equilibrar a minha própria mente e libertá-la da confusão.
Quando voltava para casa, o Sol já tinha quase desaparecido, mas a sua luminosidade permanecia; os cipestres, os pinheiros e os carvalhos são silhuetas quase escuras e o céu assume todas as cores da mudança: um fio dourado no horizonte e depois o azul transparente, o azul mais forte, o azul-claro, o azul-anilado da noite, as estrelas que se acendem uma a uma e a Lua que, ainda pálida, paira sobre todas as coisas. Embora este espectáculo se repetisse todos os dias, nunca me cansei de o contemplar e de sentir uma grata estupefacção. Correr ao encontro das primeiras luzes do crepúsculo passou a ser a minha forma de meditar. "O que é a meditação? Como é que se pratica?", perguntaram-me, por mais do que uma vez, alguns amigos curiosos. As minhas respostas contumavam deixá-los desiludidos. Se calhar, estavam à espera de fórmulas ou rituais complicados, e não de aparente simplicidade de uma disposição de espírito.

Nestes tempos confusos e contraditórios, há uma grande necessidade de nos aproximarmos da parte mais verdadeira e profunda de nós mesmos, mas muitas vezes falta-nos capacidade para nos orientarmos, para percebermos qual é o caminho que devemos escolher. Prosperam os mestres e os que se dizem mestres, os especialistas em felicidades terrenas e ultraterrenas, os cursos e os estágios que prometem a aquisição de todos os poderes possíveis e imagináveis, desde o toque que cura até às viagens extracorporais. Há qualquer coisa de incrívelmente infantil em tudo isto, ou não?

A vida interior deixou de ser um caminho, algo que se deve enfrentar dia após dia com a lucidez de espírito e de coração da idade adulta, e transformou-se num pozinho mágico que, a troco de dinheiro, alguém que se autodenominou "mestre" derrama por cima de nós. Paga-se, espera-se e o resultado acabará seguramente por aparecer. Como tudo isto está longe da minha ideia de meditação!

Pode-se meditar enquanto se está a fazer o café, a lavar os pratos, a fazer compras no supermercado, ou a escrever e a ler, como eu faço todas as tardes.

Meditar é, ao mesmo tempo, muito fácil e muito difícil. Podem usar-se dezenas de fórmulas e técnicas diversas, e não se chegar a parte alguma, e também não se pode usar nenhuma dessas fórmulas ou dessas técnicas e vivê-la totalmente. A meditação é, acima de tudo, um estado de "presença" e não - como se tenta fazer crer - de abstracção. Meditar é estar-se presente em si mesmo, na vida e para as pessoas que nos rodeiam, presente no mistério que nos une.

De facto, pensamos muitas vezes que estamos presentes e não estamos, vivemos no meio dos outros, fechados no nosso isolamento sensorial como um mergulhador dentro do seu escafandro. Vivemos prisioneiros das nossas ideias acerca da realidade, não na realidade. Todos os nossos sentidos - o ouvido, o tacto, a vista - estão literalmente anestesiados pela dança de roda das ideias.

Pensamos constantemente no que deve ser e no que não deve ser, no que foi e no que será. Na nossa cabeça, há um tropel contínuo de recordações, hipóteses, opiniões e esperanças que nos impedem de viver o presente. Mas o tempo da vida - o único tempo verdadeiramente real - é o presente. Dedicar-se à meditação é, em primeiro lugar, aprender de novo a ver, aprender de novo a ouvir. Só quando tivermos enveredado por este caminho de reeducação é que perceberemos o pouco que temos visto e o pouco que temos ouvido.

Assim, lentamente, a nossa vida ir-se-á tornando cada vez mais rica. Rica não de milagres ou de viagens extrasensoriais, mas de atenções dadas e de atenções recebidas. O tédio e a ansiedade desaparecerão e sentiremos que somos criaturas que agem num universo onde a realidade primeira é a do amor.

4 Comments:

Blogger 100asas said...

Amiga querida,
não sabia que tinhas já chegado! Esperava-te mais tarde!
Ainda bem que aqui estás de novo, as saudades apertam... Mas de qualquer das maneiras apesar de estares longe, meu pensamento manteve-se perto do teu... Sempre que dei um passeio, quando estive sozinha, acompanhada, sempre que me senti feliz, sempre que me senti desprotegida...
Ainda bem que estás aqui de novo para "meditarmos" de novo juntas!

9/11/2005 11:59 da manhã  
Blogger JNM said...

Tu meditas? Isso é uma revelação muito boa!
Também já tinha saudades da tua forma. da tua eloquência. Um óptimo regresso.
E muito obrigado pelo teu comment no Druantia.

Eu acredito mesmo no teu potencial.

9/11/2005 6:36 da tarde  
Blogger ManiacaDosPorques said...

Hmm... digamos que a minha concepção de meditação não é a convencional!

Tal como digo no post, eu penso que meditar é uma actividade espiritual/psicológica, de introspecção talvez, mas feita com tamanha presença e não de abstracção (viagens espirituais...como nos fazem crer) e que pode ser feita em qualquer tipo de situação...quando se lê e se escreve, por exemplo!

Mas penso que sim...que se pode dizer que medito..mas à minha maneira. ;)

9/15/2005 9:41 da tarde  
Blogger Desconhecida said...

Vim aqui ter pelo Druantia e fiquei espantada de ver o desconhecida aqui referenciado....obrigada.
Em relação à meditação concordo com a tua perspectiva, mas tenho grande dificuldade em meditar, pois falta-me conseguir "esvaziar" o pensamento. A minha cabeça anda a 1000 à hora, mais parece uma máquina de lavar roupa, costumo até dizer que se eu não pensasse tanto, seria com certeza uma pessoa muito mais feliz.
Beijos

9/22/2005 12:38 da tarde  

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