quinta-feira, maio 22, 2008

Madrugada

Não pensei que amanhecesse tão cedo.
Esperava madrugar e encontrar o veludo a revestir os tectos.
Esperava ainda poder ver-Te,
Segredar-Te ao ouvido.
Contar-Te meus novos medos,

segredos

inquietações.

Esperava sentir o frio confortável do escuro.

Mas não.
Madruguei e já é dia.
Tu já foste embora, caminhaste noutras direcções
E talvez eu já não saiba encontrar a minha.

Não existe veludo.

Nem pontinhos de Luz.

Aqueles que, iluminando teu chão, me levavam em pequenos e delirantes viagens.

Não existe veludo

Nem pontinhos de Luz.

Existe apenas um mar, com ondas desaparecidas.
Tão calmo.
Tão sereno.

E não existe veludo.
E minha alma e meu corpo não têm a certeza de se sentirem confortáveis neste cenário pleno de paz.
Madruguei e pensei encontar-Te.
O vento que não corre fala-me daquilo que receio ouvir.
Sou nova.
Sou, mais uma vez, nova.
Sou novamente aquio que posso experimentar. Aquilo que posso ser.
O vento que não gira fala-me de todas as formas, todas as maneiras que posso pensar naquilo que sou.
Entranha-me no peito esta nova luz.
O calor dos raios que se escapam dos instantes brancos do tempo, faz-me acreditar que tudo posso novamente
Tudo posso.
faz-me recordar as palavras, os lugares, os gestos, os sitios, as pessoas que nunca vi e não conheço nem conheci.

Não existe veludo. E isso assusta.
Mas, lentamente, minha carne entende que não é preciso.
O veludo existe. Existem em mim pequenos pontinhos. Existe em mim o Tudo e o Nada.

Madruguei e esperava ver-Te.
Nao te vi.

Senti.