segunda-feira, janeiro 09, 2006

Quantos são os que sabem ser donos de si próprios?

Hoje olhei pela janela para ver qualquer coisa de diferente, não sabendo sequer o que procurava, e deparei-me com o nada!
O que procurava estava em mim e não no exterior... Queria ser surpreendida. Iludi-me de tal forma por algo que tencionava compreender que me esqueci que nem tudo está fora de nós e esse "porquê de algo" pode ser espremido das nossas próprias arestas sem fim...
Percebi então que afinal fazia parte de mim...
Procurava respostas para as minhas perguntas, algumas retóricas claro... não fosse toda uma vida feita desta forma, mas a única coisa que via era uma mancha branca sem qualquer teor de profundidade e pensamento! Fiquei abismada. Parei. Um sentimento de tristeza invadiu-me...despedacei-me! Recompondo-me, passado pouco tempo, volto a mim e tento arranjar uma explicação para o sucedido. A única coisa que me vinha à mente era o vazio... o infindável e repugnante vazio! Senti que toda uma construção de um Eu...se redimiu, por instantes, a nada! Pensei então que aquilo não era de todo um momento negativo e sim uma aprendizagem deveras importante para o meu crescimento interior... e para a minha eterna pergunta: "Quantos são os que sabem ser donos de si próprios? "

Rapidamente me lembrei das seguintes frases de Séneca em "Cartas a Lucílio":

" Apenas julgamos comprar aquilo que nos custa dinheiro, enquanto consideramos gratuito o que pagamos com a nossa própria pessoa. Coisas que não quereríamos comprar se em troca devêssemos dar a nossa casa, ou uma quinta de recreio, ou de rendimento, estamos inteiramente dispostos a obtê-las a troco de ansiedades e de perigos, para tal sacrificando a honra, a liberdade, o tempo. A tal ponto é verdade que a nada damos menos valor do que a nós próprios! Façamos, portanto, em todas as nossas decisões e actos, o mesmo que fazemos ao abordar qualquer vendedor: perguntemos o preço da mercadoria que desejamos. Frequentemente pagamos ao mais alto preço algo por que nada deveríamos dar. Posso indicar-te muitos bens cuja aquisição, mesmo por oferta, nos custa a liberdade: seríamos donos de nós próprios se não fôssemos possuidores de tais bens.

Deves meditar no que te digo, quer se trate de lucros quer de despesas. «Este objecto vai estragar-se». Ora, é uma coisa exterior; tão facilmente passarás sem ela como passaste antes de a ter. Se tiveste esse objecto bastante tempo, perde-lo depois de saciado; se pouco tempo, perde-lo antes de te habituares a ele. «Ganharás menos dinheiro». E menos preocupações, também. «Será menor o teu crédito». Igualmente será menor a inveja. Atenta em todos esses pretensos bens que nos dão a volta ao juízo e cuja perda nos ocasiona imensas lágrimas: verás que não somos afectados por nenhum prejuízo autêntico, mas apenas pela ideia de um prejuízo. É uma perda que não sentimos, apenas imaginamos. Quem é dono de si próprio não pode perder nada. Mas quantos são os que sabem ser donos de si próprios!? "

1 Comments:

Blogger JNM said...

A liberdade é o meio que eu tenho de atingir um fim e que sem a qual esse ojectivo é inatingível, porque se impõe outra liberdade (ou a liberdade de outro), donde, ninguém é inteiramente livre e por isso ninguém é inteiramente dono de si próprio. A sociedade (boa ou má) encarregou-se de definir uma quantidade incomensurável de dependências para que os indivíduos sejam controláveis por uma classe que por ser minoritária, não teria hipótese de sobreviver.

Um beijo

1/10/2006 1:22 da tarde  

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